Resumo |
Este trabalho tem o objetivo de analisar os campos lexicais utilizados na construção dos sujeitos: polícia e bandido em notícias de crimes cometidos por ambos, no jornal popular carioca Meia Hora de Notícias. A partir de tais construções verifica-se o uso do humor na construção do campo lexical referente ao bandido como mecanismo de dominação do leitor do jornal, como estratégia para dissimular os leitores sobre os crimes cometidos pela polícia e ressaltar os feitos cometidos pelos criminosos. Na tentativa de reforçar, assim, a ideologia de polícia como lado bom e criminoso como lado ruim. A mídia, aqui representada pelo jornal popular, é importante na organização da vida da sociedade, pois reproduz crenças, constrói e valida ideologias, garantindo, portanto, a dominação em seus espaços discursivos em favor dos controladores desse discurso. Por isso quando se estuda textos referentes à comunicação de massa neste artigo: o jornal popular; pensa-se no controle exercido por esses órgãos na manutenção ou na formação de opinião o que, por conseguinte, pode pressupor controle ideológico. As concepções fundamentais utilizadas para o trabalho baseiam-se em trabalhos de van Dijk (1999, 2003, 2005 e 2008) sobre os mecanismos de dominação e poder; e uma breve apresentação da teoria do humor e riso, para a qual utilizamos os escritos de Propp (1992) e Bergson (2001).
Assim, consideramos que a escolha lexical aliada ao uso do humor serve com um funcional mecanismo de dominação utilizado pelo jornal, que consegue criar a partir de um mesmo tema ̶ o crime, dois sujeitos antagônicos: a polícia e o bandido. Tal distinção pode ser observada por meio da escolha lexical na criação da imagem de um e de outro e do uso do humor para a construção da imagem do bandido. Nesta criação o humor de superioridade, utilizado pelo jornal, visa depreciar o bandido, ridicularizando-o, fazendo com que o sujeito-leitor sinta-se, no momento do riso, superior ao bandido e não atente para a gravidade e importância da notícia lida. Tal escolha lexical e mecanismo de dominação gera a construção de uma ideologia que coloca a polícia carioca e os bandidos em lados totalmente opostos, o que dissimula a verdade, a prática comum de crimes por policiais.
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