Resumo |
Este resumo propõe uma reflexão teórica: avaliar um pormenor dos métodos de análise de gêneros (que, cremos, aplica-se tanto à tendência que vê os gêneros como textuais, quanto à que os vê como discursivos), no intento de extrair daí reflexões para discutir metodologia. Partimos de Rojo (2005:192-9), segundo quem se podem analisar gêneros: (a) examinando textos um a um, para assim verificar as regularidades que, depois, afirmar-se-iam como distintivas do gênero (método bottom up); ou (b) analisando o contexto sócio-histórico e pragmático da interlocução, para depois partir aos textos (método top down).
Avaliamos que, em (a), cujo ponto de partida são os textos, crê-se que se podem fixar traços gerais (isto é, do gênero) partindo do singular (da materialidade textual). A essa crença, consideramos válida a crítica de Hume (2004:63-4), segundo a qual não se pode afirmar o universal a partir do singular, porque isso presume equivocadamente que, da repetição de algo, pode-se concluir que esse algo continuará se repetindo. Segundo ele, essa conclusão é irracional. Não basta, p.ex., ver vários patos brancos para concluir que todo pato é branco. Do mesmo modo, não basta ver uma característica num conjunto de textos para concluir que o gênero todo a terá. Para superar essa dificuldade, parece necessária a dedução, por meio da qual se infeririam características do gênero partindo do que a razão aponta ser necessário a ele. Embora concordemos com isso, cremos que a ciência precisa cotejar conclusões teóricas com o real, para não se limitar ao idealismo. Segundo Popper (1972), isso se resolve restituindo à indução sua validade lógica, dando-lhe não a função de afirmar o universal, mas a de negá-lo (p.ex.: basta ver um pato preto para negar que todos sejam brancos).
Isso sugere que seria válido inferir características dos gêneros dedutivamente, partindo do contexto (sócio-histórico e pragmático), para depois testar essas deduções indutivamente no corpus. Se a indução as negar, elas devem ser descartadas ou reformuladas; se não, elas se tornam mais críveis e podem ser (embora sempre provisoriamente) atribuídas ao gênero.
Referências:
HUME, D. Investigações sobre o conhecimento humano e os princípios da moral. Editora da UNESP: São Paulo, 2004.
POPPER, K. A lógica da pesquisa científica. 3ª Edição. São Paulo: Cultrix, 1972.
ROJO, R. Gêneros do discurso e gêneros textuais: questões teóricas e aplicadas. In: MEURER, J.L., MOTTA-ROTH, D. & BONINI, A. (orgs.) Gêneros: teorias, métodos, debates. São Paulo: Parábola Editorial, 2005. |