Resumo |
No contexto dos Estudos da Tradução, muitos trabalhos têm demonstrado interesse pela forma como o tradutor, o revisor ou mesmo a tradução vêm sendo representados em diferentes meios de divulgação, principalmente o literário. Nesse contexto, o presente trabalho tem por objetivo analisar não só a imagem do tradutor, mas principalmente a do revisor (cuja intervenção no texto também é uma forma de tradução em uma mesma língua) na narrativa policial A aventura das provas de prelo, do escritor argentino Rodolpho Walsh (1953), cuja tradução chegou ao Brasil em 2011, como parte do livro Variações em vermelho. Considerando-se as relações entre autor e personagens dedicados ao trabalho textual, é proposta uma análise do personagem revisor e detetive Daniel Hernández (D. H.), criado por Walsh, no que diz respeito a sua relação com outros personagens, como, por exemplo, o tradutor assassinado e o delegado incumbido do caso. Nessa narrativa, um tradutor é encontrado morto em seu apartamento pouco tempo depois de ter deixado a Editora em que trabalha. A polícia, na figura do delegado Jiménez, assume o caso e rapidamente o soluciona" (o tradutor teria acidentalmente disparado sua arma enquanto a limpava). É quando Daniel entra em cena: trabalhando na mesma editora que o tradutor assassinado, ele percebe algo errado na solução do delegado e resolve então investigar o caso. Diferentemente de imagens de ladrão e subversivo, atribuídas a tradutores e revisores, presentes ainda hoje, ou ainda da imagem de subserviência à figura do autor; o revisor D. H., detetive nas horas vagas, desempenha um papel fundamental, sendo o responsável por desvendar o mistério, incriminar o assassino do tradutor, enfim, por solucionar o caso. Vale ressaltar que foram suas faculdades de revisor (análise de marcações de revisões presentes nas provas de prelo do livro traduzido pela vítima, como as irregularidades na caligrafia do tradutor assassinado e a quantidade de páginas de texto revisadas) e não somente seu faro de detetive que o levaram a solucionar realmente o caso em lugar do delegado. Além disso, é possível observar uma relação diferente entre o revisor e o delegado: não há antagonismo entre eles (ciência e ofício), o que nos remete à concepção da coparticipação na produção do sentido, dentro, é claro, dos limites da interpretação. Para esta análise, baseio-me em autores de linha pós-estruturalista dos Estudos da Tradução, como Venuti (1995), e também da Filosofia da linguagem (BARTHES, 1956). Apoio: CAPES |