Resumo |
Este estudo, de cunho Sociofonético, examina o balanceamento entre as práticas metodológicas da Fonética Acústica e da Teoria da Variação a partir do exame das vogais, consideradas críticas no estudo da Variação e Mudança Linguística por apresentarem um tipo de variação que ocorre abaixo do nível de consciência e que fornece evidências tanto para as influências linguísticas quanto sócio-psicológicas. São examinadas as vogais tônicas do açoriano-catarinense produzidas em fala espontânea por 6 falantes, 3 homens e 3 mulheres, nascidos e residentes em Florianópolis-SC. A amostra para análise é composta de 30 ocorrências de cada uma das sete vogais fonológicas por informante em posição de acento nuclear não enfático.
Em concordância com a metodologia variacionista, propôs-se como variável dependente, de natureza contínua no caso, as medidas do primeiro e segundo formantes, tomadas com o auxílio do software Praat a partir do ponto médio da vogal.
As variáveis independentes nominais consideradas referem-se às características sociais relacionadas à Sexo, Faixa Etária (adultos e idosos) e Informantes e aos contextos linguísticos consonantais Precedente e Seguinte; vocálicos, Precedente e Seguinte e ao Número de Sílabas.
A amostra foi submetida ao software de análise estatística Rbrul, que permitiu considerar a variável Informantes como de efeito aleatório, possibilitando assim a cada falante apresentar seu próprio coeficiente e variar aleatoriamente, sem influenciar a significância geral dos outros efeitos investigados. Desse modo, foi possível testar efeitos gerais além e acima da variação individual.
Os resultados obtidos para as dimensões vertical (F1) e horizontal (F2) do movimento da língua indicaram que (a) a variável Sexo é estatisticamente significativa, como o esperado, já que diferenças anatômicas entre homens e mulheres afetam a produção de vogais; (b) a variável Faixa Etária é significativa apenas para F2 quanto às vogais média-baixa anterior e alta posterior, principalmente com relação à faixa dos adultos. Quanto às variáveis linguísticas, as vogais mais estáveis do sistema - /i/, /u/ e /a/ - sofrem influência do contexto linguístico principalmente quanto ao valor de F2. Nenhuma variável linguística foi significativa para F1 quanto às vogais /i/ e /a/, no entanto, para a vogal /u/, a presença de vogal precedente de qualidade fonética distinta /a/ ou /i/ parece exercer papel. Quanto às vogais /e, E/ e /o, O/, menos estáveis, nota-se, também como o esperado, um número maior de contextos condicionadores, preferencialmente os que apresentam características articulatórias distintas em relação à tônica, tanto em termos de altura quanto de posterioridade.
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