Resumo |
O documentário, de acordo com Orlandi (2011, p. 56), busca a memória (dos sujeitos) que ao mostrar/dizer/significar, ele põe na história, constituindo-se como um acontecimento discursivo, tendo em vista o rompimento com as regularidades, inaugurando, segundo Achard (1999) uma nova série discursiva. Filiamo-nos teoricamente à Análise de Discurso, fundada por Pêcheux na década de 60/70 de séc. XX. No Brasil, coube a Eni Orlandi dar continuidade ao projeto por meio da tradução e da publicação de suas obras, pela discussão em torno dos conceitos teóricos, do que resultou a disciplinarização e reconhecimento desse campo teórico. O centro da teoria é o discurso, que só existe a partir de sujeitos interpelados pela ideologia e atravessados pelo inconsciente. A língua, nesta perspectiva teórica, escapa à lógica da gramática, significando na/pela história, constituindo-se pela falta e pela falha, negando, com isso, sentidos fechados e saturados. Mesmo assim, pelo trabalho da ideologia na língua, constroem-se evidências de homogeneidade, que apagam os efeitos de sentidos e o funcionamento da memória e a possibilidade de o sentido sempre ser outro. O documentário, apesar de estruturar-se pela língua, abarca também e, principalmente o não verbal, que se constitui não só de imagens, mas também de sons e de focos que instauram efeitos de sentidos. De qualquer modo, a língua, apesar de funcionar na história e, nessa perspectiva abrir para sentidos outros, deixa vestígios e inscreve o discurso em regiões do saber, do que se pode entender que os efeitos de sentidos são quaisquer um, posto que inscreve-se a lugares e é sofre determinações. Recortamos, para fins de análise, cenas em que os sujeitos-italianos falam dos brasileiros, destacando não só a atuação militar, mas também, o lado místico e humanístico dos pracinhas. Diante disso, propomos cercar nosso objeto o documentário buscando o trabalho da língua e os arranjos gramaticais que instauram efeitos de verdade e fazem com que a versão veiculada pareça ser uma parte da história e não uma versão dela. A conclusão a que chegamos é que os sujeitos-italianos falam dos/sobre os brasileiros e transferem para esses sujeitos o desejo de serem, assim, como eles, sujeitos que superam as qualidades humanas, atingindo, mesmo que na ordem do imaginário, o status de herói. |