Resumo |
Neste texto apresentamos parte de nosso trabalho de dissertação Gramática Normativa: movimentos e funcionamentos do diferente no mesmo (2010), sendo que tal proposta foi desenvolvida de acordo com a perspectiva teórico-metodológica da Análise de Discurso, posta em relação com noções próprias aos estudos realizados sob a égide da História das Ideias Linguísticas. O objeto selecionado para análise constituiu-se de quatro edições da Gramática Normativa da Língua Portuguesa (GNLP), de Carlos Henrique da Rocha Lima. O recorte selecionado para este simpósio objetiva explicitar o processo de circunstancialização dos instrumentos linguísticos, considerando para tanto elementos histórico-discursivos, numa tentativa de resgatar os entornos teóricos de produção da GNLP e as condições de produção (CP) nas quais se inseriu o sujeito gramático. O movimento de circunstancializar a GNLP nos permite recompor um pouco as condições de produção e da memória que entram em funcionamento em nosso objeto de análise. Não objetivamos isolar fatos, tampouco contar uma história, pois a história não deve ser entendida simplesmente numa dimensão diacrônica em oposição à sincrônica, ou meramente numa perspectiva temporalista. Também buscamos compreender os efeitos de trama que se efetivam entre língua e história, suas consequências políticas e teóricas por entendermos que as CP afetam a produção da GNLP, determinando as tomadas de posição do sujeito gramático. Para tanto, elegemos fatos históricos que consideramos constituir as condições de produção da GNLP, sejam eles: o processo de gramatização brasileira e a produção de gramáticas brasileiras; e a produção do conhecimento nas décadas 50, 70 e 90.Importa destacar que não buscamos apreender a totalidade das condições de produção, mas sim discorrer sobre aquelas com as quais a tomada de posição-sujeito gramático parece relacionar-se mais diretamente. Enquanto um possível gesto de interpretação, depreendemos que a produção da gramática é influenciada pelos movimentos teóricos, sociais, políticos e ideológicos que se interpõem em um dado momento da história, mais especificamente, o saber sobre a língua apresentado pela gramática sofre a influência da história. As relações se estabelecem de tal modo imbricadas que a história de uma nação e a memória de uma língua constituem-se mutuamente; bem como a constituição de uma gramática está diretamente ligada à história de uma disciplina, que é gramatical e que é linguística, e envolve os sujeitos de tal forma que um pode ser tomado pelo outro no decorrer do tempo. |