Resumo |
Entre os processos de formação de palavras, a gramática tradicional, bem como a teoria linguística baseada em modelos de análise de cunho lexicalista, identifica a chamada derivação regressiva, doravante, DR, (Barreto, 1980; Basílio, 1981; Freitas, 1990; Kehdi, 1998; Lobato, 1998), um processo singular de formação de palavras por derivação, que, diferentemente dos outros, deriva uma forma resultante com menos elementos que a forma de base:
(1) Ameaça (ameaçar)
(2) Desarme (desarmar);
(3) Fabrico (fabricar);
Entre as perguntas relevantes para a investigação desse processo, estão a direcionalidade da formação (como explicar, por exemplo, que fabrico deriva de fabricar, mas enfeitar deriva de enfeite), além da analogia e da produtividade. Neste trabalho, analisaremos a DR do ponto de vista da direcionalidade, observando os casos mais comuns desse tipo de formação de palavras, nomeadamente, a formação de nomes deverbais do português brasileiro (PB), tais como os de (1) a (3), além de verbos tratados como derivados de nomes compostos do inglês, tais como (4) e (5):
(4) Baby-sit baby-sitter
(5) Self-destruct self-destruction
Nosso objetivo é avaliar a correção de modelos de análise morfológica baseados na palavra, uma vez que a formação de palavras por DR sempre foi usada como evidência importante para modelos dessa natureza. Também nos interessamos por identificar a natureza deste processo em termos de um modelo não lexicalista de análise morfologia, nomeadamente, a Morfologia Distribuída.
Assim, assumindo que a DR i) altera a especificação lexical da base (embarque (embarcar)), ii) suprime uma unidade morfológica e mantém uma base, iii) cria novas unidades lexicais, e iv) insere, aleatoriamente, uma vogal final (Basílio, 1987 e Rocha, 1990), estabeleceremos uma tipologia de nomes deverbais formados por DR, no PB, de acordo com duas propriedades: i) a vogal inserida no nome deverbal e sua relação com a vogal temática do verbo, e ii) a possibilidade de ocorrência de outro nome deverbal com significado semelhante, formado com ção ou mento. Paralelamente, para os dados do inglês, estabeleceremos uma classificação em termos de dois parâmetros: i) o afixo que ocorre na formação nominal (-er, -ion, etc), mas está ausente no verbo derivado; e ii) o tipo e estrutura do composto do qual resulta essa forma verbal.
Os resultados dessa classificação nas línguas em foco neste trabalho nos permitirão avaliar o papel que a raiz presente nas formas derivante e derivada representa nesse processo, bem como entender o que realmente acontece nele em termos estruturais.
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