Resumo |
A norma não-padrão, caracterizada na fala principalmente pela ausência de concordância, parece não ter voz no espaço de ensino de língua portuguesa, ou seja, na escola. Isso ocorre porque esse espaço tem sido utilizado exclusivamente para o ensino da norma padrão. Propostas que procuram inserir outras normas na escola não têm recebido entrada nesse ambiente. Ainda assim, há estudos sendo realizados que buscam aproximar a realidade linguística do aluno da apresentada pela escola. O ensino gramatical pautado na análise contrastiva vem surtindo efeito para o ensino, quando se trata de variedades de uma mesma língua. Nos Estados Unidos, Wheeler e Swords (2006) levaram para a sala de aula uma proposta de análise contrastiva. Através da análise contrastiva, as pesquisadoras puderam vivenciar uma sensível mudança no aprendizado de inglês padrão por parte de seus alunos, ao conduzi-los à alternância de código (code-switching). De igual modo no Brasil, propostas de ensino com análise contrastiva vêm sendo desenvolvidas (ver Cyranka, 2010). Uma teoria sobre code-switching também foi apresentada por Kato (2005), ao apresentar o que ficou conhecido como gramática do letrado. O presente trabalho também toma por base um ensino de língua portuguesa partindo da norma não-padrão para a padrão, por meio da análise contrastiva, visando à alternância de código. A proposta está baseada na elaboração de materiais didáticos que partam da norma não-padrão para fazer o aluno se conscientizar de que essa norma possui regras próprias, para então, descobrir, por análise contrastiva, as regras inerentes à norma padrão. Podemos tomar como exemplo desse material didático a concordância de número entre artigo, substantivo e adjetivo, produzido em 2012. Na norma não-padrão, a concordância tende a ser marcada no primeiro elemento do sintagma nominal, enquanto na norma padrão a marcação acontece em todos os elementos do sintagma. A apropriação das regras por parte dos alunos visou à conscientização de que, por serem normas distintas, possuem ambientes de utilização distintos. Isso propiciou uma prática de alternância de código, conduzindo o aluno falante ao domínio dessas duas variedades. A aplicação desse material em parte de uma turma de sexto ano do ensino fundamental da rede municipal do Rio de Janeiro proporcionou experienciar que, de fato, é possível tornar o ensino de estruturas gramaticais mais atraente para o aluno. Embora o retorno tenha sido positivo, foi detectado que é necessário que haja mais tempo para aplicação, para que os resultados sejam mais duradores na vida dos alunos. |