Resumo |
O objetivo deste trabalho é observar o comportamento dos pronomes com interpretação reflexiva no Português Brasileiro (PB), como (1). Nas sentenças que apresentam leitura de correferência entre sujeito e objeto, o pronome ele, apesar de não apresentar nenhuma marca de reflexividade como a expressão ele mesmo (2), permite a recuperação da referência do elemento que o c-comanda, além de apresentar uma marcação de Caso nominativo, típica de elementos na posição de sujeitos, e não de complementos verbais (posição em que o pronome eu se encontra em (1)).
(1) O João[1] viu ele no espelho[1] e levou um susto.
(2) O João[1] viu ele mesmo[1] no espelho e levou um susto.
(3) O João[1] se[1] viu no espelho e levou um susto.
A partir da observação da distribuição dos pronomes nominativos em (1), a hipótese deste trabalho é que PB, ao contrário do inglês, apresenta um traço fonologicamente nulo para reflexividade. Elementos com esse traço serão chamados de pronomes reflexivos silenciosos. Tal hipótese é sustentada a partir da comparação da distribuição de pronomes plenos e reflexivos em PB e inglês nos contextos de topicalização, conforme visto em (4)-(6). Em (4), PB permite a presença de reflexivos silenciosos em contexto impossível no inglês:
(4) a. Ele, ele não acha que está gordo.
b. *He, he doesn't believe to be fat.
(5) a. Ele mesmo, ele não acha que está gordo.
b. Himself, he doesn't believe to be fat.
(6) a. *Se, ele não acha que está gordo.
b. *Self, he doesn't think to be fat.
Considerando os fatos acima, este trabalho propõe que a o surgimento dos reflexivos silenciosos em PB se dá pelo fato de que esses pronomes não sejam dependentes da marcação de Caso estrutural, e que, por conta de seu traço reflexivo fonologicamente nulo, seja possível a atribuição de um Caso default nominativo, em PB para que esses elementos sejam licenciados em PF. Para justificar essa proposta, este trabalho se vale do fato de que pronomes com caso inerente, mesmo em contextos de correferência não-reflexivos são agramaticais em PB sem seu atribuidor de Caso.
(7) a. Eu, eu não gosto usando essa camisa.
b. *I, I don't like wearing this shirt.
(8) a. *Mim, eu não gosto usando essa camisa.
b. *Me/myself, I don't like wearing this shirt.
(9) a. De mim, eu não gosto usando essa camisa.
b. *Of me/myself, I don't like wearing this shirt. |