Resumo |
Neste trabalho apresento uma análise para os verbos auxiliares que capta a sua essência verbal e, ao mesmo tempo, define sua especificidade dentro da classe dos verbos. O trabalho se desenvolve tomando como base os pressupostos da Teoria Gerativa, em sua versão minimalista (Chomsky 1995). Dentro desse quadro teórico, a primeira característica que proponho para os auxiliares é a sua natureza categorial. Assumo com Ross (1969) que os auxiliares entram na derivação como núcleos funcionais (Cinque 1999, 2006; Wurmbrand 2004, 2007, 2010; Biberauer & Roberts 2009, 2012; Bosque & Gallego 2011). A segunda propriedade dos auxiliares se relaciona com os seus traços. Nesse aspecto, adoto a proposta de Pesetsky & Torrego (2006) e Chomsky (2008), segundo a qual a operação Merge é guiada por Agree: para que um item lexical X entre na derivação e se concatene com um objeto sintático Y já formado, X deve ter algum traço [F] que atue como sonda, buscando estabelecer uma relação de Agree com o traço [F] em Y. Em conformidade com essa ideia, proponho que esses verbos trazem um traço não-interpretável [uV] para a derivação (Kelly 2006, Biberauer & Roberts 2009, Lunguinho 2011). A presença desse traço na estrutura dos auxiliares instaura a relação denominada Agree categorial (Panagiotidis 2011), que é a chave para entendermos tanto a seleção categorial rígida desses verbos quanto a dependência que eles impõem em relação à forma não-finita do seu complemento. Apresentadas as hipóteses que norteiam o trabalho, descrevo e analiso o sistema de auxiliares do português brasileiro. Primeiramente analiso criticamente os critérios de auxiliaridade mais comuns na literatura e, em seguida, agrupo esses critérios como manifestações de propriedades mais gerais da subclasse de verbos auxiliares (Lobato 1975, Gonçalves 1996). Na parte final do trabalho, discuto como a valoração do traço [uV] dos auxiliares interage com o alcance do movimento do verbo nas línguas e com a noção de Fase (Chomsky 2000, 2oo1, 2008). O objetivo da discussão é ilustrar como, a partir dessa interação, resultam possíveis sistemas de complementação de auxiliares. Para ilustrar essa questão, apresento como se dá a valoração do traço [uV] em duas línguas: em inglês, língua sem movimento do verbo para T (Emonds 1976, 1978; Pollock 1989), e em zapoteca, língua cujos modais não se movem para T, mas que podem selecionar complementos do tipo TP (Chávez-Peon & Mudzigwa 2008). |