Resumo |
O presente trabalho pretende levantar considerações sobre a canção Cobra Grande, do compositor Waldemar Henrique. Composta em 1934, está inserida no grande mosaico sonoro dos anos 30 e faz parte de um ciclo de 11 canções denominado Lendas Amazônicas. Considerado o rapsodo da Amazônia, suas canções são permeadas por manifestações regionais de cunho nortista e têm sido referência para compositores e intérpretes que, de alguma forma, vinculam-se a essa região. A análise da canção aqui exemplificada leva em conta o cruzamento entre as linguagens verbal e musical, e considera a canção do ponto de vista enunciativo-discursivo. Assume-se, como referencial teórico da pesquisa aqui apresentada, a filosofia da linguagem do Círculo de Bakhtin, em especial, a concepção de dialogismo, observando-se as relações possíveis e plausíveis entre música e poesia. Discute-se o pertencimento da canção ao gênero popular ou erudito. Até que ponto trata-se de uma canção popular? Seria uma canção folclórica? Qual importância da entonação (como elemento fundamental) na interpretação da obra de Waldemar Henrique, uma vez que a transplantação da temática folclórica para uma peça destinada ao canto e piano transforma os performers em cantadores de causos, lendas e mitos? De que modo as marcas de expressão e variações de andamento (cinética musical) e de intensidade (dinâmica musical), inscritas na partitura, influenciam na entonação das frases musicais? Estaria o piano realizando apenas o acompanhamento para o canto ou o pianista, um diálogo com o cantor concretizando, desse modo, a canção? Realizou-se, ainda, o exame do conteúdo e da forma poética de acordo com os pressupostos de Stein e Spillman e a macro análise da forma-estrutura da canção, com base nos critérios organizacionais encontrados em Schoenberg e White. Ressaltamos, enfim, que o objetivo final consiste em levantar pistas interpretativas com vistas à construção da performance como ato imediato de comunicação, materialização de um enunciado verbivocovisual e dialógico por excelência, posto que requer, além do texto-partitura, intérpretes e audiência. |