Resumo |
Como, na realidade, apreendemos o discurso de outrem? (...) Como é o discurso ativamente absorvido pela consciência e qual a influência que ele tem sobre a orientação das palavras que o receptor pronunciará em seguida?, a questão levantada por Valentin Voloshinov/Mikhail Bakhtin, na obra Marxismo e filosofia da linguagem é também motivadora deste trabalho, que tem como corpus um conjunto inicial de 400 redações de vestibular da Fuvest 2009, cujo tema é trabalho. O objetivo é analisar a formulação, pelo vestibulando, da tese dissertativa, em seu diálogo com diferentes formações discursivas sejam elas pressupostas ou não a partir da coletânea da proposta buscando-se uma possível regularidade no modo de apropriação do discurso alheio pelo vestibulando. A pesquisa tem como parte de suas referências o conceito bakhtiniano de dialogismo, segundo o qual é no diálogo, e pela alteridade, que se constitui o sujeito. Além disso, utiliza-se também o conceito de recepção ativa do discurso, citado por Voloshinov e desenvolvido, posteriormente, por Augusto Ponzio, em seu artigo sobre a manipulação do discurso alheio. Para o linguista italiano, a apropriação linguística, seja na forma de repetição ou de reelaboração, nunca escapa o status de semi-alheia ou seja, nunca é totalmente autoral, ou totalmente alheia. Ambos, Voloshinov e Ponzio, entretanto, tinham como objeto principal de análise o discurso literário, ao qual contrapunham o discurso retórico considerado como menos livre no modo de tratar a palavra alheia. Neste trabalho, elegeu-se o discurso retórico, em uma situação particularmente coercitiva, a saber, a do Vestibular. Mesmo assim, os resultados até agora demonstraram a presença diversificada de apropriações ativas, que se manifestam, entre outras formas, por meio da formulação da tese condutora do texto argumentativo. Entre as principais estratégias de apropriação encontradas estão alguns processos referenciais como a recategorização e o uso de conectores contra-argumentativos, que demonstram ora uma postura de rompimento, ora de conservação em relação a uma formação discursiva eleita. |