Resumo |
Em certos âmbitos profissionais o uso da língua apresenta tal relevância a ponto de seu conhecimento fundamentar grande parte da formação e atuação dessas áreas. Exemplo dessa situação, o âmbito do Direito envolve intenso uso da língua e requer, para uma maior eficiência nos resultados profissionais, profundo domínio de suas particularidades entre outras habilidades. Objeto de reflexão para o bacharel desde o período de sua formação acadêmica, a língua é, para este, verdadeira ferramenta de trabalho. Considerando que, até meados do século XX, esses sujeitos eram associados a uma cultura tradicionalista e conservadora (Adorno, 1988; Candido, 2004), pode-se considerar que tal conservadorismo se manifestasse, linguisticamente, como tendência ao normativismo e afiliação à gramática tradicional. Tomando como fonte textos contemporâneos de bachareis em Direito paulistas, pretendemos analisar o uso da língua associado aos aspectos sociais de sua produção, buscando verificar a aproximação ou distanciamento do tradicionalismo linguístico. Para tanto, nos ateremos às posições do sujeito e do clítico na sentença, a cujas realizações (pré ou pós-verbal) são atribuídos diferentes valores sociais, fator que possivelmente interfere na variação. Paralelamente, o fenômeno se define ainda pela correlação entre as colocações desses elementos na sentença, de maneira que a gramática que favorece a posição pós-verbal do sujeito tende a favorecer o emprego da ênclise. A interdependência desses fatos linguísticos revelou-se pela significativa redução da ordem verbo-sujeito (VS) (Berlinck, 1989; Torres Morais, 1993) e de estruturas enclíticas na formação do Português Brasileiro (Cyrino, 1993; Pagotto, 1993, entre outros), atualmente restritas a contextos estruturais específicos, adquiridos principalmente por meio da escolarização. Com base no pressuposto de que a variação não é aleatória mas regulada por um conjunto de regras, realizaremos a análise dentro da perspectiva da sociolinguística variacionista. Dessa maneira, pretendemos analisar a complexa rede de forças que recaem sobre o fenômeno em questão: as linguísticas, cuja atuação se dá internamente, visto que são estruturas gramaticalmente interdependentes; e as sociohistóricas, ligadas à formação dos bachareis e à história da cultura bacharelesca em São Paulo. Para consolidar a ponte entre linguístico e social adotaremos a proposta sociológica de Pierre Bourdieu, cuja perspectiva considera as manifestações culturais e, portanto, também as linguísticas como sendo reguladas pela origem e aspirações sociais do falante, bem como de seu papel e de suas relações no interior de um grupo sociocultural. (Apoio: CAPES DS)
|