Resumo |
Este trabalho fundamenta-se teoricamente nos conceitos da Análise do Discurso francesa e tem como objetivo investigar como se dá a assunção da autoria pelo sujeito-professor do Ensino Fundamental, participante do CADEP (Centro de Aprendizagem da Docência dos Egressos de Pedagogia), em um contexto específico: a relação que ele estabelece entre discurso científico e discurso de divulgação científica, a partir da análise do material didático Ler e Escrever. Para a Análise do Discurso, o conceito de sujeito deve ser entendido como uma posição discursiva, não se trata do indivíduo empírico. O sujeito pode, ou não, ocupar a posição discursiva de autor ao produzir seu discurso. Ao assumir a autoria de seus textos, o sujeito constrói um texto com unidade, coesão e coerência; ele responsabiliza-se pelas palavras colocadas em curso, historiciza o dizer; logo, a assunção da autoria rompe com as atividades de cópia, de preenchimento de lacunas, tão valorizadas nos materiais didáticos. A metodologia de pesquisa prevê que, a partir da análise dos livros didáticos da Coleção Ler e Escrever, usados nas escolas do Estado de São Paulo, os sujeitos-professores escrevam seus pontos de vista, por meio de textos argumentativos, acerca das atividades propostas pelo material e, também, sobre o modo como o conhecimento científico circula na escola, ou seja, quais considerações eles têm sobre o discurso científico (DC) e sobre o discurso de divulgação científica (DDC). A análise dos dados considera os textos argumentativos produzidos pelos sujeitos-professores, a partir do paradigma indiciário proposto por Ginzburg. Buscamos interpretar, também, como esses sujeitos legitimam, ou não, o uso do DDC na escola, visto que a presença do DDC pode implicar o silêncio do DC no contexto escolar. Os resultados mostram que, após os encontros com o grupo do CADEP, nos quais promovemos discussões sobre os textos estudados, os professores assumiram a autoria em seus escritos e passaram a questionar a presença do DDC no livro didático, em detrimento do DC, o que no início da pesquisa era interpretado como natural. (FAPESP- Processo 2010/15782-6) |