Resumo |
O conceito de foco na Linguística vem sendo estudado há muito, sob os mais variados aspectos. Não obstante às diversas perspectivas de análise, tende-se a relacionar foco à informação nova mais importante de um enunciado, como é possível conferir em Dik (1989), Lambrecht (1994), Mioto (2003), Gonçalves (1997), Sheliakin (2001), Trask (2004), entre outros, o que deixa clara a importância do co-texto linguístico e do contexto para o estudo deste fenômeno. Dentre as diversas estratégias de focalização, Jespersen (1937, apud Lambrecht 2001), em estudo realizado sobre a língua inglesa, salienta a frequente ocorrência de construções clivadas. O estudioso acreditava que a alta produtividade desse tipo de construção constitui um meio pelo qual as desvantagens de o inglês apresentar ordem vocabular consideravelmente rígida podem ser contornadas, o que explicaria por que esse tipo de construção não é encontrado ou não é extensivamente utilizado em línguas nas quais a ordem vocabular é considerada menos rígida do que em inglês, francês ou línguas escandinavas. O português apresenta ampla família de construções clivadas, como é possível constatar em Braga (2009) e Braga et ali (no prelo). No entanto, em russo, língua que possui ordem vocabular mais livre, esse tipo de construção não é encontrado exatamente da mesma forma como nas línguas supracitadas, o que sugere a coerência da hipótese de Jespersen. Este trabalho orienta-se pelos princípios teóricos dos Modelos Baseados no Uso (Barlow &Kemmer 2000, Bybee 2010, Langacker 2000), de acordo com o quais o sistema lingüístico não seria autônomo, como afirmado pelas concepções formalistas, mas intimamente relacionado com outros sistemas cognitivos, sendo a freqüência de uso das formas extremamente relevante para sua fixação. Daí a importância do uso linguístico para a abstração do modelo de gramática. Neste trabalho, serão analisadas as estratégias de focalização utilizadas em russo e em português. Num primeiro momento, serão identificadas as estratégias de maior relevância, para, em seguida, ser realizada análise comparativa entre as duas línguas. Para isso, utilizam-se instâncias reais de uso da língua, em sua modalidade escrita, mais especificamente artigos de opinião de jornais russos e brasileiros. |