Resumo |
Ainda é marcante a polêmica quanto à existência e à caracterização da correlação, entendida como processo sintático distinto da coordenação e da subordinação. Grande parte dos gramáticos, por influência da NGB, não incluiu em suas obras a correlação, apesar de esta apresentar especificidades bem particulares em relação aos processos mais canônicos de estruturação sintática. Segundo Hopper & Traugott (1997), "todas as línguas têm dispositivos para interligar as cláusulas no que chamamos de períodos complexos". Esses mecanismos de ligação intersentencial diferem radicalmente de uma língua para outra, desde construções justapostas razoavelmente independentes até construções retóricas dependentes e complexas. Os autores propõem a existência de três pontos de aglomeração: a parataxe, a hipotaxe e a subordinação. Esses três processos, segundo grande parte dos funcionalistas, expressam um crescendum de integração, e, certamente, envolvem entre um ponto e outro variadas formas de integração clausal constatadas nas diversas línguas do mundo. Quanto à correlação, verificamos asserções esparsas na literatura linguística funcionalista, o que de per si já justificaria um estudo mais aprofundado sobre o assunto. Castilho (2004), Módolo (1999), Rodrigues (2007), entre outros autores, se debruçam sobre essa questão, filiando-se às ideias de Oiticica (1952). Na correlação, segundo esses autores, a cada elemento gramatical na primeira oração corresponde outro elemento gramatical na segunda, sem o quê o arranjo sintático seria inaceitável. Sob essa ótica, a definição apresentada, de caráter genérico, já seria suficiente para contrapor a correlação aos outros dois processos mais clássicos de estruturação do chamado período composto. Assim, rompendo com a tradição gramatical e ainda com a força do paradigma formal estruturalista, intentamos analisar a correlação como um processo distinto dos demais à luz da linguística funcional centrada no uso. Em termos metodológicos, nossa pesquisa persegue, em um primeiro momento, um viés estritamente teórico. Em um segundo momento, aplicaremos o instrumental teórico adotado ao corpus, que é formado por textos políticos, extraídos do site da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. O diálogo a ser travado entre correlação e gramática das construções permitirá uma tipologização das correlatas aditivas em micro, meso e macro-construções (cf. Traugott, 2010). Nossos resultados apontam para um uso bastante especializado das construções correlatas, inseridas em contextos com alta carga de argumentatividade, como no seguinte exemplo: Das estatais está sendo exigido não apenas mais comedimento na fixação dos preços e tarifas como maior transparência nos negócios. Nosso objetivo, em síntese, é descrever e analisar essas construções, buscando suas especificidades e peculiaridades.
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