Resumo |
O presente trabalho é parte da pesquisa de doutorado, cujo objetivo é investigar as possíveis motivações na ordenação dos advérbios de tempo e aspecto com o sufixo mente (como frequentemente e atualmente), numa visão diacrônica da mudança desses elementos, sendo que, para esta análise, focaremos em apenas duas sincronias. Para tanto, coletamos e analisamos as ocorrências de advérbios em cartas pessoais e oficiais dos séculos XVI e XVII (PE e PB).
Utilizamos os pressupostos teóricos da Linguística funcional centrada no uso para fundamentar a pesquisa sobre os mencionados itens adverbiais, um tipo de abordagem que considera haver estreita relação entre a estrutura linguística e o uso que os falantes fazem dela em contextos reais de comunicação, não sendo limitada à observação de aspectos formais, ou da difusão das formas pela estrutura social, incorporando dados semânticos, pragmáticos e discursivos. No quadro da linguística funcional, ao relacionarmos a posição do adverbial com a semântica do mesmo, utilizamos o princípio icônico da proximidade (subprincípio da integração): conteúdos mais próximos cognitivamente também estão mais integrados sintaticamente; e ainda, o que está mais afastado cognitivamente também estará separado na estrutura. Um outro aspecto a ser abordado diz respeito à gramaticalização.
Os objetivos deste trabalho foram: (i) analisar os advérbios de acordo com sua função semântico-pragmática; (ii) observar até que ponto a base adjetiva de um item influencia sua posição; e (iii) relacionar a função discursiva dos advérbios e sua posição na oração, assim como o papel (inter)subjetivo do contexto na mudança do item.
Em referência à posição do item adverbial, acreditamos que o papel semântico exercido pelo advérbio influencia na posição que este ocupa na frase, principalmente na medida em que está relacionado ao grau de integração entre o item e o verbo ou entre o item e a cláusula. Com isso, esperamos que: (a) os advérbios se apresentem nas posições imediatas ao verbo, principalmente no que diz respeito aos aspectuais e aos polissêmicos (aspecto + modo), sendo estes elementos semanticamente ligados à ação verbal; (b) os elementos tidos como conectivos (que mais se identificam com o aspecto coesivo) ocorram sempre topicalizados, na margem esquerda da oração; e (c) em relação aos advérbios temporais, podemos dizer que estes seriam elementos mais livres no que diz respeito à sua posição, no entanto, esperamos que estes ocorram mais às margens (tanto direita, quanto esquerda) por serem elementos adjuntivos, ou seja, fazem referência ao evento como um todo.
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