Resumo |
Nas últimas décadas, veio se constituindo e hoje é relativamente consensual a hipótese de que os gêneros (textuais/discursivos) dizem respeito a formas relativamente estáveis de enunciados sócio-historicamente constituídos, ao passo que os tipos (textuais/discursivos) são sequências textuais com características bem definidas, que entram na composição de exemplares de todos os gêneros e que, por isso mesmo, não sofrem influência de ordem cultural ou histórica. Ainda segundo essa hipótese, os gêneros são variados e quase infinitos (notícia, poema, romance, canção, bula de remédio, ata de condomínio, entrevista, reportagem, debate, etc), enquanto os tipos se limitam a meia dúzia de categorias (narração, descrição, argumentação, explicação, diálogo, injunção). Essa forma de encarar a problemática da relação entre os gêneros e os tipos tem feito com que os tipos, de modo geral, sejam vistos como se fossem menos complexos do que os gêneros, de cuja estrutura composicional, paradoxalmente, participam. Problematizando essa hipótese da universalidade e atemporalidade dos tipos, esta comunicação levanta uma hipótese oposta, segundo a qual as noções de gênero e de tipo são de tal forma imbricadas que cada gênero possui tipos específicos. Em outros termos, cada gênero se caracteriza por um modo típico de narrar, descrever, argumentar, etc. Nessa perspectiva, o modo típico de narrar do gênero reportagem seria diferente do modo típico de narrar do gênero conto. Da mesma forma, o modo típico de argumentar do gênero artigo científico seria diferente do modo típico de argumentar do gênero bate-papo. Nesta comunicação, evidências a favor dessa hipótese serão buscadas em trabalhos que estudaram as narrativas produzidas no interior de gêneros diversos, pertencentes a diferentes esferas de uso da língua (o relato oral de experiência pessoal (LABOV, 1972), a notícia (VAN DIJK, 1992), o conto popular (BENTES, 2000), a entrevista de emprego (BONU, 2001), a transação comercial (FILLIETTAZ, 2001), a entrevista midiática (BRES, 2009), o romance (BARONI, 2010) e a reportagem (CUNHA, 2013)). Por meio da comparação dos resultados desses trabalhos, será possível verificar que os modos de narrar em cada gênero são tão diversos uns dos outros e tão ligados aos gêneros em que se constituíram que eles são irredutíveis a um único e mesmo tipo narrativo. Assim, os trabalhos que serão expostos fornecem indícios fortes de que a hipótese da transversalidade dos tipos em relação aos gêneros é bem pouco sustentável. |