Resumo |
Observa-se, no século XIX, uma grande produção de trabalhos lexicográficos. As publicações desses trabalhos devem-se ao progresso da imprensa, ao avanço do ensino e à institucionalização das ciências que, para cada novo campo do conhecimento, passou a adotar um vocabulário específico. Nesse século, foram publicados mais de duzentos dicionários em língua portuguesa, sendo que mais da metade dessas obras tratam de vocabulários específicos de cada área do saber. No campo do conhecimento sobre a linguagem, há a publicação, no Brasil, de três dicionários gramaticais: o Diccionario grammatical portuguez (1865) do alagoano José Alexandre PASSOS (1808-1878); o Diccionario grammatical, destinado a auxiliar aos estudantes nos exercicios de analyse etymologica e logica da lingua portugueza (1886) do fluminense Felisberto Rodrigues Pereira de CARVALHO (1850-1898); e o Diccionario grammatical (1889) do sergipano João RIBEIRO Fernandes (1860-1934).
Esses três dicionários de gramática foram compostos com a mesma finalidade de socorrer os estudantes em questões gramaticais. Os autores recorreram ao gênero dicionarístico por considerarem suas obras livros de consulta e por organizarem os assuntos gramaticais segundo a ordem alfabética e na forma de verbetes com explicações sucintas. Coincidentemente, antes da publicação desses dicionários, os três autores escreveram gramáticas do português para o ensino (PASSOS, 1848; CARVALHO, 1880; RIBEIRO, 1888) e os três se destacaram no magistério de língua portuguesa numa época em que as especificidades do falar brasileiro eram temas de debate e punham em risco a hegemonia da denominação língua portuguesa. A reivindicação pela língua nacional decorreu de um processo de emancipação política no qual a língua passou a ser símbolo de um ideário nacional e as particularidades do linguajar brasileiro foram deixando de ser consideradas vícios.
Diante desse contexto, a presente comunicação, que segue orientação da Historiografia Linguística, tem por objetivo reconstruir a reflexão sobre o reconhecimento dos falares brasileiros na língua portuguesa, a partir da análise desses três dicionários de gramática, principalmente no que se refere aos verbetes: língua, dialeto, brasileirismo, africanismo, indianismo, estrangeirismo e barbarismo.
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