Resumo |
O contato entre línguas africanas e o português brasileiro é tema recorrente, nos estudos linguísticos produzidos no Brasil, desde o século XIX (cf., por exemplo, MACEDO SOARES, 1942[1874/1891]) e parece estar em evidência no panorama contemporâneo, como o demonstra o número de trabalhos recentemente publicados (cf., p. ex., FIORIN & PETTER, 2009; BAXTER, LUCHESI & RIBEIRO, 2009). Ao analisar a história desta produção linguística, Bonvini (2009) propõe que os trabalhos produzidos podem ser distinguidos em duas tendências: influência e crioulização. Segundo ele, ambas as hipóteses apresentam deficiências, especialmente quanto a dois aspectos: o tratamento das fontes e a metodologia de estudos empregada. Quanto às fontes, os trabalhos teriam sido formulados sem apoio em dados linguísticos precisos e identificados. Quanto à metodologia, as análises estariam centradas em aspectos léxico-semânticos ou morfossintáticos, níveis que Bonvini julga inadequados para tratar a questão. A partir dessas críticas, cumpre indagar: quais foram as fontes usadas nos trabalhos sobre as relações entre as línguas africanas e o português brasileiro? Toda a produção sobre o tema desenvolveu-se a partir dos mesmos princípios metodológicos? Houve mudanças no tratamento do tema: da hipótese da influência à crioulização? Desenvolvemos um projeto cujos objetivos são mapear e analisar a produção que investigou as relações entre o português brasileiro e as línguas africanas no Brasil e propor uma periodização internamente orientada para a história dessa produção, a partir da análise das fontes e da metodologia de estudos dos textos. Tal análise é baseada no conceito de programa de investigação, proposto por Swiggers (1981). Esse conceito permite distinguir e agrupar trabalhos produzidos sob diferentes teorias e em épocas distintas, uma vez que destaca sua natureza interna, isto é, a maneira de os estudiosos lidarem com um mesmo objeto de investigação. Nosso objetivo é classificar a história desta produção, a partir dos parâmetros de análise que definem um programa de investigação: visão (visão de linguagem adotada, tipos de materiais e modos de conceber as relações entre linguagem e sociedade, linguagem e cultura, etc.), técnica (conjunto de princípios e métodos adotados) e incidência (formas linguísticas de análise privilegiadas e a natureza e função preferencialmente atribuídas a essas formas). O estudo desses três aspectos permitirá sinalizar preponderâncias, ausências, semelhanças e distinções que auxiliem a melhor delimitar, por um lado, fases numa abordagem linear do tempo e, por outro lado, permanências, rupturas, retomadas, apagamentos que se verifiquem entre as diferentes fases nessa história. (Apoio: CNPq) |