Resumo |
O presente estudo está ancorado na perspectiva enunciativo-discursiva da linguagem patológica e na Teoria da Adaptação desenvolvida por Kolk e colegas. O presente estudo pretende caracterizar a fala de N, vítima de dois AVCs isquêmicos (um em 2001, outro em 2009, depois do qual foi submetido a cirurgia de clipagem para evitar novos AVCs) diagnosticado com fala telegráfica, que chamaremos de fala reduzida. Nem tudo que N produz pode ser caracterizado como fala reduzida. O recorte dos dados longitudinais de fala espontânea de N (coletados durante sessões no grupo de Convivência de Sujeitos Cérebro-Lesados da UFSM) é sobre o que identificamos como fala reduzida e coloca o foco na sua construção sintática. Segundo a Teoria da Adaptação, a fala do sujeito afásico é resultado de uma estratégia de adaptação do sujeito às suas dificuldades linguísticas, fazendo emergir então uma sintaxe simplificada marcada pela não-finitude. Estruturas sintáticas na ordem canônica (SVO) e com o verbo conjugado, portanto, não fazem parte da fala reduzida. Neste estudo, é dada relevância às construções de tópico-comentário identificadas na fala de N. Existem diversos padrões de estruturas de tópico-comentário, como foi apontado por diversos autores. De modo geral, o tópico (assunto sobre o qual se quer falar) é anunciado na posição de tema e depois de uma separação prosódica o comentário é alocado na posição de rema, de informação nova sobre aquele assunto anunciado no tópico. Construções de tópico-comentário são comuns em língua portuguesa, mas não são adotadas com frequência significativa pelos indivíduos falantes de língua portuguesa. Na fala reduzida produzida por N, a estrutura de tópico-comentário é usada com frequência expressiva. Mais que isso, o que se observa é que a integração entre tópico e comentário na fala reduzida de N não e dá pela via sintática, mas semântica, pragmática e discursiva. Este subtipo de construção de tópico-comentário é chamado de hanging topic. |