Resumo |
Esta comunicação tem como objetivo focalizar o ritmo no Português Brasileiro (PB) atual, analisando especificamente a tendência à construção de unidades rítmicas trocaicas, tanto em nível lexical como em níveis prosódicos superiores. São examinados alguns contextos em que se pode considerar que haja uma predominância de cadências trocaicas, (pelo menos) no nível fonético: atribuição de acento lexical e secundário; adaptação ao PB de nomes estrangeiros comuns (Assis, 2007) e próprios (Massini-Cagliari, 2010, 2011); interpretações/traduções (melôs) de trechos de reggaes originalmente em inglês em português (Rostas, 2010); aproveitamentos rítmicos em textos literários e de propaganda.
Do ponto de vista da análise dos dados, a principal questão é determinar o tipo de alternância rítmica nos casos analisados, se trocaica (com proeminência inicial) ou iâmbica (com proeminência final), ou se podemos reduzir um tipo ao outro, tomando como base abordagens teóricas que colocam em dúvida esta dicotomia (Allen, 1968).
Desde há muito tempo, estudiosos como Michaëlis de Vasconcelos (1912-13, p. 63) vêm apontando a alternância trocaica como constitutiva do organismo verdadeiro do idioma português (Michaëlis de Vasconcelos, 1912-13, p. 401). Com relação ao PB, Joaquim Mattoso Câmara Jr. (1985[1970], p. 65) já fazia afirmações quanto à identidade rítmica do idioma, que ele denominou de seu ritmo característico, mostrando que, embora o acento do PB seja livre, não se segue que não haja um determinado tipo de acentuação que é o mais generalizado no vocábulo português e imprime à língua o seu ritmo característico. É sem a menor dúvida o tipo paroxítono, do que decorre para a língua um ritmo «grave».
Entretanto, com relação ao PB, nem todos os estudos que se debruçaram sobre o acento lexical apontam para uma predominância de um ritmo trocaico (cf. Lee, 1995 e Cagliari, 1997, 1999; veja-se também Mateus, 1983, e Mateus e dAndrade, 2000, para o Português Europeu), embora a maioria deles o faça (Bisol, 1992; Wetzels, 1992; Massini-Cagliari, 1995, 2005, entre outros). Porém, com relação ao acento secundário, os estudos realizados até o momento com relação ao PB apontam para uma predominância de cadências trocaicas (Collischonn, 1994; Abarre; Fernandes-Svartmann, 2008). Os demais casos analisados neste trabalho, que podem ser classificados de usos estilísticos em um nível pós-lexical, apontam para uma predominância de proeminências trocaicas.
(Apoio: FAPESP 2010/06386-0; CNPq - 302222/2009-0)
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