Resumo |
Desde o início do século XX, o vestibular constitui-se por um a função que com o passar do tempo naturalizou-se e imbricou-se na sociedade e no ambiente escolar: é eleito como um mecanismo que seleciona os mais aptos para ingressarem nas universidades. Tal papel é legitimado por um conjunto de leis que não permite o ingresso no ensino superior, pelo menos nas universidades estaduais paulistas, por outros meios. Esse exame se confunde com uma instituição que geralmente é encarregada de divulgar e aplicar as provas e com uma universidade a qual o evento representa. Para a seleção de candidatos, um dos dispositivos do vestibular é apresentar um material intitulado manual do candidato, no qual há o estabelecimento das regras que compõem o exame e que visam oficializar um conjunto de práticas que regulam os saberes e os comportamentos exigidos para aqueles que querem ingressar no ensino superior. Inseridos nos manuais, estão os programas das disciplinas, os quais informam aos candidatos os conteúdos exigidos em relação a cada área de conhecimento. Outra característica desse material é sua ampla circulação entre os alunos, professores e toda uma sociedade que volta os olhos para esse exame. Diante desse contexto, selecionamos como corpus trinta e quatro programas de português e de redação disponibilizados anualmente pela Fundação Universitária para o Vestibular, a FUVEST, no período de 1976 a 2012. Nosso objetivo é analisar como os documentos da FUVEST aliam certas concepções do campo da linguagem com seu papel institucional de elaborada, aplicadora e avaliadora do exame vestibular. Nossa hipótese é que as concepções do campo da linguagem mobilizadas nos programas de português e de redação filiam-se a Formações Discursivas que se rejeitam: de um lado, uma perspectiva que considera a língua como um sistema teórico e por isso enfatiza a gramática teórico-normativa; por outro, uma concepção que enfatiza a interação verbal e por isso pressupõe os diferentes sentidos das palavras conforme os contextos de uso da linguagem. Como essas concepções não se conciliam prevalece um viés teórico nos enunciados, ou seja, o uso da linguagem só é possível pelo domínio teórico do sistema. Esse é o pressuposto teórico que irá determinar o que é língua, texto e escrita, nos programas de português e de redação. Para sustentar nossas análises, temos a perspectiva da Análise do Discurso de procedência Francesa, mais especificamente nos postulados de Maingueneau sobre interdiscurso.
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