Resumo |
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), criado em 1998, é dividido em cinco áreas de conhecimento, sendo que uma delas é a Redação. Nessa prova, exige-se a elaboração de um texto dissertativo-argumentativo a partir da defesa de um ponto de vista. Como auxílio para a construção dos argumentos, uma antologia de textos é oferecida. Partindo das coletâneas de texto das propostas de redação do Enem, o presente trabalho dedicou-se em descrever e analisar as propostas de 1998 e 2007, que constituem o corpus desta apresentação, focando a presença dos textos verbais e verbo-visuais utilizados como apoio para o desenvolvimento da produção escrita. O objetivo foi investigar a concepção de texto subjacente a essas propostas de modo a confrontar como o exame se utilizou dos textos para propor o tema nas duas edições. Em 1998, a proposta de redação trouxe um único texto: um fragmento da letra de música O que é o que é do compositor popular brasileiro Luiz Gonzaga. A segunda vez que uma letra de música voltou a compor uma proposta foi em 2007, com as letras Ninguém= Ninguém e Uns iguais aos outros das bandas de rock brasileiro Engenheiros do Havaii e Titãs. Dessa vez, contudo, os textos se dispuseram em uma nova configuração, acompanhados de uma imagem. O que era um único texto verbal tornou-se uma coletânea de textos composta por textos verbais e um texto de dimensão visual. À luz dos conceitos de gênero do discurso e texto de Bakhtin e o Círculo, as provas selecionadas foram caracterizadas como um gênero correspondente às condições e finalidades específicas de suas esferas, e os textos foram analisados dentro do projeto discursivo da linguagem verbo-visual. Dessa maneira, concomitante à análise da materialidade do corpus, a pesquisa buscou identificar o que diziam os principais documentos publicados pelo Inep e MEC durante o período mencionado em torno da concepção de linguagem e texto. Os resultados mostraram que, em 1998, a relação texto de apoio/tema proposto foi construída exclusivamente pelo compartilhamento temático do assunto. Já na edição de 2007, a relação entre eles se deu pelo reconhecimento dos diferentes gêneros apresentados e pela articulação entre os textos, por meio da qual o candidato pôde embasar o seu argumento. Entretanto, ao tratar o texto imagético como uma figura, sem autoria e contexto, manteve a noção de texto como um objeto fechado em si, restringindo a abordagem da sua dimensão estético-ideológica. |