Resumo |
Nesta ocasião, apresentaremos parte de uma pesquisa que mobiliza a noção de fórmula discursiva (KRIEG-PLANQUE, 2010) à luz da noção de período técnico-científico informacional (SANTOS, 2000). Trata-se de observar o percurso de um sintagma cristalizado em suas engrenagens de contiguidade e suas descontinuidades, considerando memórias, transformações, rupturas. Com isso, pretende-se estudar práticas que engendram estandardizações nos modos de dizer, que estão sempre ligados a modos de ser. Em outros termos: pretende-se estudar os modos de circulação de materiais linguísticos, considerando a atual divisão do trabalho intelectual na sua relação com os meios materiais de produção e difusão dos textos.
Fazemos a hipótese de que há algo novo ou específico no modo como se criam e difundem dizeres sintéticos. É longa já a tradição de estudos do provérbio, por exemplo, mas há, agora, as listas de provérbios alterados; também não é nada desprezível a produção teórica sobre slogans, mas há, agora, um conjunto de mídias que ressignificam o que se põe como palavra de ordem, suscitando novas investigações. Os percursos dos dizeres fazem parte dos sentidos que se produzem a cada uma de suas atualizações, e se não há novidade nisso, parece plausível supor que há um interesse renovado pelo fato de tais percursos se darem também em meios digitais, constituindo comunidades discursivas virtuais que não são um mundo à parte, mas parte do mundo construído por polêmicas regradas, umas mais formalmente explicitadas que outras.
Assim se põem problemas novos ao lado de velhas questões. Caso emblemático, no Brasil, são os debates sobre a revisão da Lei de Direitos Autorais, que instaurou uma certa oposição entre direitos do criador e acesso ao bem cultural. Nessa conjuntura, liberdade de imprensa, liberdade de expressão, censura, regulação, entre outros sintagmas correlatos, em termos discursivos circulam numa crescente opacidade. Para estudá-la é que nos valemos da proposta de Alice Krieg-Planque, que parte das ciências da informação e da comunicação social na direção de uma análise do discurso de base enunciativa, focalizando a circulação de discursos nos expedientes midiáticos, postulando-a como constitutiva do espaço público, produzida, portanto, nos processos de publicização. Eis aí a importância de compreender o período técnico-científico informacional, que se caracteriza, conforme Milton Santos, por uma imprescindibilidade dos discursos, mediadores de todas as relações entre objetos e ações: uns produzem os outros numa reciprocidade técnica e normativa que tem implicações sistêmicas e, assim, organiza o mundo humano ideologicamente.
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