Resumo |
No âmbito da semântica, especialmente da semântica formal, questões em torno dos verbos aspectuais e do progressivo com predicados estativos frequentemente são deixadas de lado nas análises sobre o português brasileiro. Por isso, o presente trabalho visa analisar tanto a contribuição semântica das perífrases aspectuais do português brasileiro para o significado da sentença, centrando-se nos casos com começar a+INF, passar a+INF, parar de+INF e deixar de+INF, quanto os casos em que predicados estativos aparecem com verbos aspectuais ou no aspecto progressivo. Pretendemos mostrar que os verbos aspectuais se comportam de forma diferente dos verbos de aspecto gramatical como estar e ir, tendo inclusive uma posição diferente na estrutura sintática (Laca 2002; 2004). Senso assim, este trabalho tem um duplo objetivo. De um lado, pretende mostrar que perífrases aparentemente semelhantes são, na verdade, semanticamente diferentes, como ocorre em Pedro começou a correr e Pedro passou a correr. Para isso, assumimos que começar requer um predicado que denote estágios (Rothstein, 2004), já que está relacionado com o estágio inicial de um evento; assuminos também que passar não impõe esse tipo de restrição aos predicados selecionados (ter estágios), porque está relacionado a uma mudança de estado (Bertucci, 2011). Por outro lado, o presente trabalho também objetiva responder por que predicados estativos podem aparecer tanto com verbos aspectuais, como em Comecei a entender semântica, ou Parei de gostar de música sertaneja, quanto no aspecto progressivo, como em Estou amando semântica, ou Estou gostando de música sertaneja. A hipótese defendida aqui é a de que certos predicados estativos em PB aparecem no progressivo porque se comportam como predicados habituais, que também aparecem no progressivo, como em Pedro está fumando ultimamente (Bertucci & Rothstein, em prep.). Entender e amar estão entre esses predicados, o que explica sua ocorrência nos ambientes apresentados. Por outro lado, predicados como ser brasileiro ou ser alto não fazem parte desse grupo, o que explicaria não formarem boas sentenças nos mesmos contextos: *Comecei a ser brasileiro/ser alto; *Estou sendo brasileiro/alto. |