Resumo |
A Educação Inclusiva é tema de várias pesquisas em Linguística Aplicada, mas o caminho apresenta-se nas suas primeiras curvas e há muito a ser questionado, estudado e pensado. Estamos nestes primeiros trechos da estrada e vislumbramos a educação de alunos surdos como nosso motivo para a travessia que iniciamos. Interessa-nos problematizar a situação do ensino de língua inglesa (LI) na escola regular inclusiva que tem salas de aula com alunos surdos e ouvintes. De acordo com a proposta foucaulteana, a problematização não é uma tentativa de solucionar problemas ou criar fórmulas, mas de encorajar o pensamento crítico diante de questões e tentar provocar a descoberta de possibilidades, novos olhares e movimentos. O intérprete de língua de sinais (ILS) é um profissional de presença obrigatório na educação de alunos surdos. Ele é o responsável, segundo as leis brasileiras, pela tradução do par linguístico português-libras (língua brasileira de sinais) para que o aluno tenha acesso aos acontecimentos linguísticos orais em sala de aula. Em relação ao ensino de LI, o ILS lida com três línguas (inglês, português e libras) e precisa dar conta do processo de tradução que envolve o trio linguístico. Neste trabalho, trazemos um recorte da nossa pesquisa para doutoramento (na Universidade Estadual de Campinas) que tem como objetivo problematizar a formação do ILS que atua no ensino de LI através de uma análise discursivo-desconstrutivista do seu dizer sobre sua formação e prática. Entrevistamos ILS que atuam nos estados de SP e MG sobre sua formação e sua prática no que se refere ao ensino da LI. Para as nossas análises dos fatos linguísticos, buscamos apoio em teóricos como Derrida e Foucault e em alguns conceitos da psicanálise freudo-lacaniana. Analisar o dizer do ILS sobre si mesmo, sua profissão e sua prática permite percorrer a relação entre discursos/memória/história e entender a identidade do sujeito como não acabada, deslocada e (trans)formada nas várias práticas de subjetivação , nos traços sócio-histórico-culturais contidos nas representações sobre o que é ser intérprete e a prática da interpretação na aula de LI. Em algumas considerações possíveis, a partir das análises, o ILS apresenta-se como normalizador da diferença entre surdos e ouvintes na prática escolar. Sobre o ensino da LI, ele se vê na tentativa de lidar com a frustração diante da língua oral desconhecida. |