Resumo |
Tendo como aporte teórico-metodológico principal a Análise do Discurso francesa de base enunciativa e, em especial, a obra A noção de fórmula em análise do discurso: quadro teórico e metodológico de Alice Krieg-Planque, este trabalho tem como objetivo mostrar o percurso da fórmula discursiva cultura de paz no espaço público com ênfase no período compreendido entre os anos 2000 a 2010, considerado pela ONU como a Década Internacional para uma Cultura de Paz e Não Violência para as Crianças do Mundo (UN Resolution A/RES/53/25).
No programa da década, os pontos fundamentais estabelecidos para a cultura de paz foram: Cultura de Paz através da educação, Economia sustentável e desenvolvimento social, Compromisso com todos os direitos humanos, Equidade entre os gêneros, Participação democrática, Compreensão, tolerância e solidariedade, Comunicação participativa e livre fluxo de informações e conhecimento e Paz e segurança internacional. Como se vê, a ideia da cultura de paz se originou em temas-conceitos bastante opacos, que criaram um terreno fértil para a polêmica discursiva.
Buscando mostrar o desenvolvimento desse acontecimento discursivo no Brasil a partir da circulação desse sintagma como uma fórmula nos discursos institucionais ou seja, levando em consideração que a dimensão de seus desdobramentos só pode ser apreendida na rede interdiscursiva produzida pelas mobilizações que se fizeram dele no período em questão , montamos nosso córpus com base em ocorrências tanto em jornais de circulação nacional (Folha de S.Paulo, Estado de S. Paulo e Brasil de Fato, via acervos digitais) quanto em buscadores on-line (com particular atenção ao Google Search, por ser o mais utilizado segundo estatísticas da Alexa, empresa especializada em medições e estatísticas da web).
Analisando discursivamente os dados obtidos, mostraremos como esses temas se concretizaram ou foram apagados, verificando a circulação dessa fórmula e, mais precisamente, as práticas que a cristalizam e que são, ao mesmo tempo, por ela instituídas, num paradoxo constitutivo. |