Resumo |
Nesse trabalho empreenderemos uma uma proposta de análise da reduplicação verbal em Nheengatú -- língua indígena brasileira do tronco Tupi da família Tupi-Guarani, falada na área dos Vaupés como um fenômeno de pluracionalidade verbal.
De acordo com Cabredo-Hofherr (2012), a pluralidade de eventos é tida como qualquer significado linguístico que expressa uma multiplicidade de eventos, seja esse significado linguístico um marcador verbal, adverbial ou um marcador adnominal. Nesse sentido, o fenômeno de reduplicação verbal em Nheengatú poderia ser analisado na perspectiva da pluracionalidade verbal, uma vez que reduplicação dos verbos nessa língua pode gerar leituras de ações repetidas e de intensidade. Cruz (2011) afirma que a reduplicação em Nheengatú pode gerar ainda, uma leitura distributiva, contudo, não é o que observa-se nos dados. Abaixo, exemplificamos a reduplicação verbal nessa língua.
Em (1), a reduplicação do verbo kupi gera uma leitura de ação repetida, pois envolve múltiplos eventos do tipo denotado pelo verbo. Comparem-se com o exemplo em (2) que apresenta o verbo sem reduplicação:
(1) ape paa u-kupi~kupiri
CONJ REP 3SG-RED~roçar
Aí, diz que ele roçou repetidamente.
(2) ape ai u-kupi(ri)
CONJ preguiça 3SG_A-roçar
Aí, a preguiça roçou.
Em (3), a repetição do verbo kaú (estar bêbado) gera uma leitura de intensidade, que, dentro do parâmetro da medida relativa, Cusic chama de aumentativa:
(3) ta-kaú~kaú paa nhaã suayara ita
3PL-RED~estar.bêbado REP DEM_DIST 3SG.cunhado PL
Diz que meus cunhados estavam muito bêbados.
Diante do exposto, empreenderemos uma análise formal dos diferentes tipos de verbos que apresentam o fenômeno de reduplicação, tomando como base a tipologia de leituras pluracionais de Cusic. Nos apoiaremos também, no estudo de ações repetidas e repetitivas empreendido por Rose (2008) na língua Émérillon -- língua tupi-guarani falada na Guiana Francesa que também apresenta o fenômeno da reduplicação verbal, bem como na análise do fenômeno da pluracionalidade verbal em Karitiana língua da família Arikém do tronco Tupi, falada em Porto Velho, Rondônia --- realizada por Muller & Sanchez-Mendez (2010). Os dados do Nheengatú serão retirados de Cruz (2011).
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