Resumo |
Filiado à escola francesa de Análise de Discurso (AD), o presente trabalho apresenta questões que estão sendo investigadas em dissertação de mestrado no programa de pós-graduação em Letras da Universidade Federal de Santa Maria. Buscamos analisar o discurso jornalístico sobre o gaúcho em tempos de(s)censura (1964-1989), considerando que a sobreposição de um sentido hegemônico (seja a afirmação do mito ou o processo de negação desse) para essa figura identitária do sul do Brasil acaba por produzir um efeito de silenciamento a outros sentidos que estão aí, também em movimento. É necessário esclarecer que o trabalho não ficará preso a uma temporalidade linear do período delimitado, mas sim ao movimento dos sentidos os efeitos metafóricos presentes na materialidade discursiva do(s) objeto(s). Para a construção do arquivo de pesquisa da dissertação serão selecionadas sequências discursivas de jornais publicados no Rio Grande do Sul, onde vamos procurar identificar as regularidades os excessos, as repetições, as faltas. Já no tocante ao trabalho que ora apresentamos, traremos à baila um exemplo que envolva processos discursivos de produção de sentidos no que é dito e no que não é dito, privilegiando as noções de discurso e de silêncio. Partindo das considerações de Michel Pêcheux um dos precursores da hoje chamada AD temos por objeto o discurso, efeitos de sentido entre interlocutores. Apesar de trabalhar conceitos relacionados diretamente com a psicanálise (imaginário, real e simbólico), a análise de discurso toma essas noções objetivamente, ou seja, na sua relação com a ideologia, com a determinação histórica. Além dos trabalhos desses primeiros teóricos dessa escola, podemos indicar Eni Puccinelli Orlandi como figura atuante nos desdobramentos que esses estudos têm realizado aqui no Brasil. É em seu trabalho As formas do silêncio (1992) que encontramos dois conceitos que julgamos essenciais em nosso trabalho: o silêncio fundante e a política do silêncio (silenciamento mencionado anteriormente). O primeiro, espaço entre as palavras, é fundamento necessário ao sentido (ORLANDI,1992). O segundo o silenciamento, de forma direta, pode corresponder à situação de censura, quando há a interdição da inscrição do sujeito em formações discursivas determinadas (ORLANDI, 1992). Devemos lembrar que, quando desenvolvendo o dispositivo analítico específico do trabalho (desafio próprio à AD), realizamos um movimento pendular, da teoria para a análise e da análise para a teoria, re-significando não apenas o objeto de análise, mas também essas noções teóricas mobilizadas. |