Resumo |
Atualmente, por mais que defendamos uma leitura bakhtinianamente crítica, ativa e responsiva, como preconizam os PCNs e toda sorte de máximas intelectuais iluminadas, somos ainda (principalmente os alunos) reféns de totens teóricos defendidos por tenentes-professores-pesquisadores que, a partir de conteúdos normatizados/cristalizados, nos impõem sistemas conceituais estáticos, muita vezes blindados e intimidadores, seja pelo sabor do demônio da conveniência, como diria Machado de Assis, e/ou por ambições meramente político-acadêmicas de demarcação de um território de poder. Nesse sentido (e contra o mesmo!), este trabalho pretende promover a leitura transgressiva como um exercício necessário para a produção de conhecimento. Para tanto, serão mencionadas bases teóricas e reflexões pertinentes. Barthes, por exemplo, nos esclarece sobre a lógica não linear da leitura, propensa, potencialmente, a contornar/transgredir o ardil dedutivo, coercitivo e canalizador da escrita, prática que, levada às últimas consequências, nos devolveria o prazer e o erotismo propiciado por uma interpretação fecunda. Certeau, nessa linha, nos fala do imperialismo escriturístico embutido imaginariamente em nossa cultura grafocêntrica, conferindo ao autor e a certos privilegiados (professores, especialistas etc.) o status sublime de os legítimos intérpretes ou guardiões dos discursos sociais (textos teóricos, literários etc.). Pensando, a partir daí, numa concepção de leitura que seja ativa e responsiva, relacionada principalmente aos textos prescritos em sala de aula, podemos utilizar o conceito de transgressão como uma espécie de pedagogia libertadora, capaz de promover a transcendência e o combate a muitos recalcamentos acadêmicos instaurados nos alunos no confronto com textos supostamente fechados e traduzíveis (apenas) pela figura do guru, do professor. A esperança é que uma postura didática de tal envergadura possa devolver aos alunos/pesquisadores, para citar novamente Barthes, um dos grandes prazeres advindos da leitura, quando exercitada de maneira crítica/transgressora: o prazer de escrevê-la e, se podemos acrescentar, o entusiasmo de se fazer sujeito/pesquisador, levando a ciência a caminhar no terreno que é o seu, a saber, um espaço de controvérsias. Diante do exposto, esta comunicação pretende se ilustrar complementarmente com uma crítica (ou transgressão) de um sistema teórico muito comum, presente em disciplinas ligadas aos gêneros discursivos/textuais: a doutrina dos tipos textuais (descrição, narração, explicação, argumentação etc.). Busca-se mostrar que, além de não serem categorias caracterizadas por propriedades intrinsecamente gramaticais, como afirma Marcuschi e teóricos da Linguística Textual, elas não encontram ecos na maioria dos discursos efetivos tal como são descritas. A crítica se pautará em estudos sobre a argumentação e em experiências vivenciadas com alunos. |