Resumo |
RESUMO
Partindo da noção de escrita como prática social, que se articula entre o linguístico, o histórico, o ideológico e o inconsciente, o presente trabalho propõe uma reflexão sobre o exercício da escrita de si. O corpus analisado é um relato individual sobre a trajetória de um imigrante e sua família que saem de Iati Pernambuco - em 1952. O relato segue até os dias atuais em que o imigrante, morador Taboão da Serra (Grande São Paulo) há 50 anos e de São Paulo há 61 anos, revive fatos da formação da cidade de Taboão da Serra.
Assim, o corpus, constituído de texto produzido a partir de um relato individual, apresenta inscrições que nos convidam a analisar os efeitos de sentidos construídos na escrita de si e nos levam a perceber a subjetividade e a alteridade como resultado do trabalho de memória, pois o sujeito-autor, ao escrever sobre si, escolhe e sistematiza, (re)edita palavras ditas em outros contextos sociohistóricos, que ressoam produzindo lembranças e esquecimentos. Em síntese, objetiva-se analisar como o sujeito se subjetiva nessa prática de escrita. Para verificar essa questão, mobilizamos, na análise, também outros conceitos, como os de memória, alteridade e identidade.
Para discutir o papel da memória na constituição do sujeito, na perspectiva do discurso, tendo como tema a escrita de indivíduo idoso, apoiamo-nos basicamente em Le Goff (1924), Bosi (2003), Coracini (2007), Pêcheux (1975) e Orlandi (2012), que nos trazem contribuições sobre os lugares e o modo como a memória se efetiva.
Assim, observamos que, num constante movimento entre singularidade e alteridade, esse sujeito se inscreve na prática da escrita de si e se constitui como autor. Portanto, a escrita constitui-se num espaço simbólico, lugar de interpretação, num trabalho de memória e de construção de identidade, porque ao escrever sobre si, o sujeito escreve também sobre o outro, que o determina na sua construção identitária. Portanto, o que se põe em cena na escrita de si é o direito à memória, o direito ao passado, que é um direito que as sociedades desenvolvidas não só respeitam e proveem, mas também tomam como critério para as suas transformações.
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