Resumo |
O presente trabalho pretende investigar a relação dinâmica e complexa de identificação do sujeito-professor com a escrita, no que diz respeito a como este sujeito constrói seu discurso escrito, quais as marcas linguísticas que ele disponibiliza e que podem indiciar uma possível identificação ou não com a produção textual. Utilizaremos como instrumento de coleta de dados textos dissertativo-argumentativos de um grupo de professores de séries iniciais do Ensino Fundamental, que atuam no ensino público em Ribeirão Preto e que participam de um grupo de estudo, na FFCLRP/ USP, denominado CADEP (CENTRO DE APRENDIZAGEM DA DOCÊNCIA DOS EGRESSOS DE PEDAGOGIA). Realizaremos as análises dos textos em consonância com os pressupostos teóricos da Análise do Discurso de linha francesa, a fim de observar a relação desses sujeitos com a linguagem escrita, o que será possível pela análise das marcas linguísticas presentes em seus discursos, nos desvãos das palavras, nas brechas do dizer. Pensando na complexidade dessa relação, despertou-nos o interesse em pesquisar a identificação do sujeito-professor com a sua produção escrita no que tange aos mecanismos ideológicos presentes no seu discurso, que naturalizam determinados sentidos e não outros, suas vivências e as formações imaginárias que permeiam a sua escrita, elementos estes que podem influenciar de maneira significativa a construção do discurso escrito, assim como afetar o posicionamento do sujeito como autor, comprometendo, por consequência, o espaço interpretativo na sala de aula. Entendemos que, para o sujeito-professor oferecer condições aos alunos de produzirem discursos escritos com autoria, faz-se necessário que o próprio professor se identifique com esse tipo de linguagem e, consequentemente, posicione-se como autor da sua escrita. Nos recortes analisados, encontramos marcas linguísticas que indiciaram uma identificação do sujeito-professor com a linguagem escrita que possibilitou a este criar o efeito-autor, enquanto que também encontramos indícios de não identificação com a sua produção escrita, prejudicando, nesse caso, a assunção da autoria. Acreditamos que somente quando o professor se identificar com o seu discurso escrito e se assumir como responsável pelo seu dizer será capaz de produzir textos interpretáveis, que considerem o outro/Outro, e em sala de aula, considerar seus alunos como autores, permitindo o acesso destes a condições que privilegiem a multiplicidade de vozes e sentidos, a gestos interpretativos que possibilitem a identificação também dos alunos com a escrita. |