Resumo |
O objetivo principal, neste trabalho, é examinar na co-construção da narrativa oral em parceria o papel da regulação discursiva do adulto em contextos interativos. Para Caron (1983), este tipo de regulação é entendido como um conjunto de intervenções discursivas que permitem à atividade de se desenvolver segundo as intenções dos interlocutores. Dito isto, algumas especificidades infantis serão levadas em consideração como a imprevisibilidade no ato de narrar, a criatividade, quanto à capacidade de manter uma temática, identificar personagens, acontecimentos e, assim por diante. Estamos admitindo, então, que existe uma variação de narrar, na medida em que há uma apropriação por parte da criança, do ponto de vista linguístico, cognitivo e cultural.
O quadro teórico de apoio converge para subtemas e autores como memória/lembrança (Ricoeur, 2010); percepção/imaginação (Saes, 2010); narrativa/narração (Bruner, 1991; 1996; 2005); François (2004); imagem (Davallon, 1999), entre outros.
Trata-se de uma pesquisa informatizada, realizada com crianças de 5, 8 e 10 anos, em que os dados foram transcritos segundo as convenções utilizadas por Preti e Urbano (1990). O material utilizado é uma história A pedra no caminho (Furnari, 1988: 14-15), constituída de cinco imagens, sem texto, que conta o mal-entendido entre duas personagens.
Na análise e interpretação dos dados, a partir da leitura das imagens pelas crianças selecionadas, nossa atenção converge para: 1) a tutela do adulto, ou seja, o suporte fornecido pelo adulto; 2) os modos interativos, isto é, os encadeamentos dos atos de linguagem que exprimem lugares enunciativos típicos como: a) posicionar-se: a criança manifesta seu ponto de vista, em relação ao que o adulto propõe, argumenta, pergunta, ordena, recusa; b) pedir: a criança faz pedidos de diferentes maneiras ao adulto, proposições, imposições; c) fornecer um sentido: o adulto propõe enunciados que estimulam as atitudes da criança, durante a atividade de narrar. Conforme Caron (1983), estes atos de linguagem são decorrentes de duas funções da regulação discursiva pelo adulto: de apoio (guidage), e de compensação (compensation).
Os resultados obtidos confirmam (a) por um lado, que as estratégias discursivas adotadas pelo adulto podem, ou não, contribuir com sucesso para o progresso linguageiro da criança; (b) por outro lado, a diversidade das formas de engajamento afetivo, cognitivo e estético da criança com a imagem favorece as relações intersubjetivas.
A expectativa nossa é que, na articulação entre teoria e prática, o presente trabalho forneça subsídios para a realização de outras pesquisas e atividades em sala de aula.
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