Resumo |
Este trabalho, desenvolvido no Grupo de Pesquisa Estudos sobre a linguagem (GPEL/CNPq processo 400183/2009-9), parte do pressuposto de que os esquemas de junção de um texto, com suas possibilidades de realização variáveis, no que tange à arquitetura sintática e às relações lógico-semânticas e cognitivas, constituem um fenômeno sintomático para a apreensão da Tradição Discursiva (TD) em que o texto se insere (KABATEK, 2005) e coloca, no centro de investigação, o comportamento dos elementos juntivos enquanto índices de mescla de TDs, especificamente, no contexto de aquisição de TDs no modo de enunciação escrito, e, dessa forma, procura responder às questões: Como o emprego de mecanismos de junção pode refletir a mescla de TDs durante o processo de aquisição de TDs da escrita? Qual o melhor enfoque desse aspecto sintomático dos mecanismos de junção tomados como marcas da relação entre o oral/letrado e o falado/escrito, enquanto fatos linguísticos fala e escrita e práticas sociais oralidade e letramento (CORRÊA, 1997, 2004)? O objetivo geral do trabalho é, portanto, descrever e analisar o comportamento das técnicas de junção, empregadas em TDs distintas, buscando identificar, nesse comportamento, possíveis reflexos de mesclas de TDs. Para tanto, adoto um modelo de junção de base funcionalista (HALLIDAY, 1985), fundado na não discretude dos processos, e um arranjo bidimensional das relações desempenhadas pelos juntores (RAIBLE, 2001), em que se entrecruzam o eixo tático e o das relações lógico-semânticas e cognitivas (KORTMANN, 1997). O universo da investigação é composto por 100 produções textuais de alunos de uma escola pública e periférica, coletadas com periodicidade quinzenal, ao longo das duas primeiras séries do Ensino Fundamental. Os resultados da análise, quantitativa e qualitativa, revelaram que as escolhas que as crianças fazem em relação ao paradigma dos juntores podem ser consideradas sintomáticas de contextos sintagmáticos de mesclas de TDs. As justaposições, em contextos que permitem inferências de relações semântico-cognitivas distintas, aparecem recorrentemente nos limites entre uma TD e outra, ou seja, como sintoma de mescla de TDs. Entretanto, os mecanismos que ocupam essas posições variam e apresentam, de modo genérico, aspectos táticos e semântico-pragmáticos da TD em que se inserem. Nessa perspectiva, defendo (cf. Longhin-Thomazi, 2011a, 2011b), que, ao fazer escolhas sobre como juntar, nos eixos sintagmático e paradigmático, as crianças deixam pistas, nos textos, que indicam a heterogeneidade constitutiva da escrita e, intrinsecamente associada a ela, uma heterogeneidade constitutiva das tradições em que os textos estão inseridos. |