Resumo |
Em 1920, Amadeu Amaral, em sua obra O dialeto caipira, percebeu que tom geral do frasear é lento, plano e igual [...]. No estudo ora proposto, tendo como base teórica a prosódia, buscou-se verificar a afirmação de Amaral, porém, por meios tecnológicos, de modo a caracterizar o dialeto de forma objetiva e verossímil. Para isso, para um estudo prévio, foram coletadas quatorze entrevistas livres com moradores da região do Médio Tietê nas cidades de Capivari, Itu, Porto Feliz, Santana de Parnaíba, Pirapora do Bom Jesus, Piracicaba e Tietê , sendo selecionados dois homens de cada cidade, todos com idade acima de sessenta anos, brasileiros natos e de baixa escolaridade; e um de São Paulo, paulista nato, de alta escolaridade, com idade acima dos 35 anos, sendo portador do português-padrão, para servir como controle. Optou-se pelas falas espontâneas, pois, segundo Chacon (1998) e Pacheco (2006), a leitura e falas monitoradas podem fazer com que o interlocutor improvise sua entoação, e o objetivo desta pesquisa é distinguir marcas dialetais. Assim sendo, frases específicas que contivessem elementos comuns (como a presença de retroflexos em coda silábica, sílabas tônicas nasais, entre outras) foram coletadas e colocadas no programa SFS (Speech Filing System) para automatização dos dados, e computadas pela rotina do ExProsódia aplicativo desenvolvido pelo Prof. Dr. Waldemar Ferreira Netto (2008), que tem por objetivo a análise automática de frequência, intensidade e duração de segmentos de frases dados na forma de texto. Desta forma, primeiramente percebeu-se que o dialeto caipira não é plano e igual ou sem variedade de inflexões, conforme descrito por Amaral, pois os resultados obtidos pela rotina demonstram que há variações de frequência e intensidade que não se distanciam do dialeto paulistano: medindo e comparando o tom médio (TM) e tendo como base o teste ANOVA, gera-se um valor de p>0,19, ou seja, a diferença entre ambos não é significativa. Tanto que, transformando a formação prosódica numa sequência melódica (FERREIRA NETTO et al, 2009), é possível perceber em ambos dialetos uma semelhança, diferenciando-se apenas em tons. Deste modo, pela execução de dados, é possível afirmar que no dialeto caipira haja um ritmo linguístico tal qual é possível observar nos demais dialetos. |