Resumo |
O presente trabalho tem como objetivo identificar e analisar os principais mecanismos linguísticos que explicitam ou encobrem a relação entre as perspectivas dos interlocutores em textos de tendência argumentativa, na modalidade escrita em português. Para este fim, se elaborou um corpus com textos do gênero Carta do Leitor, publicados na seção Painel do Leitor, no site dos jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo.
Com base nas noções presentes na Pragmática, na Linguística Textual e, em especial, na Linguística da Enunciação, pretendemos tecer alguns comentários referentes às relações entre interlocutores que se estabelecem na exposição de um ponto de vista e, com isso, refletir sobre construção textual da presença do outro. Como norteador metodológico, nos guiaremos pelos preceitos do Paradigma Indiciário (GINZBURG,1989).
Dessa forma, aspectos morfossintáticos, tais como, extensão dos enunciados, presença ou ausência de marcadores discursivos, uso de perguntas retóricas, semantismo verbal e adjetival, emprego da pontuação, utilização dos modalizadores, entre outros, se tornam índices basilares na construção de perspectivas em um texto de dimensão argumentativa e, sob uma análise refinada, podem revelar a importância que cada ponto vista possui na construção textual.
Nos tempos definidos como pós-modernos, observamos a exacerbação do individualismo da opinião, quase um culto ao narcisismo na expressão do ponto de vista. Como consequência, existe uma preocupação em expor a minha perspectiva em detrimento ao apreço pela perspectiva do outro. Tal tendência pode materializar-se no emprego de determinados mecanismos linguísticos, os quais que revelam a ênfase na opinião própria, sendo que, como consequência desse fato, observa-se um espaço reduzido para explicitar a consciência da postura do interlocutor.
Considerando que qualquer elaboração textual-discursiva implica em um processo coenunciativo, em que se manifesta a dualidade necessária entre identidade e alteridade, a explicitação desses mecanismos linguísticos também revela a construção do enunciatário. No entanto, nos questionamos se há alguma tendência no uso desses mecanismos, quais efeitos de sentido emergiriam e em que medida a sistematização de tais elementos contribuiria para uma discussão, no contexto de ensino, sobre as potencialidades desses mecanismos ofertados pela língua para a construção do sujeito. Tais indagações são eixos essenciais para aqueles que se interessam sobre a elaboração da imagem do sujeito na argumentação.
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