Resumo |
Em português, as nasais [m, n] podem ocorrer em coda por um processo de assimilação regressiva, em que /N/ assimila o ponto de articulação do segmento bilabial ou alveolar seguinte, p. ex., 'empada' e[mp]ada, 'um dano' u[nd]ano. De outro modo, essas nasais não ocorrem em posição de coda no idioma. No entanto, no português como segunda língua (PL2) por aprendizes que possuem o inglês como L1, [m] e [n] aparecem como coda final tanto diante de palavra iniciada por segmento heterorgânico como em posição final absoluta, conforme verificado em dados de fala espontânea coletados a partir de entrevistas com 11 aprendizes adultos. A produção das codas finais [m, n] por esses aprendizes correlacionou-se com seu tempo de residência no Brasil: 3 meses: p = 0.97; 2-3 anos: p = 0.19; 9-11 anos: p = 0.14; e 20-31 anos: p = 0.59, conforme medidas estatísticas realizadas pelo programa GoldVarb (SANKOFF et al., 2005). Demonstra-se, neste estudo, que a produção de [m, n] finais em contextos não permitidos em português deve-se à transferência do ranqueamento de restrições da L1 para a L2 dos aprendizes. Em inglês e na interlíngua inicial do aprendiz anglófono de PL2, as restrições da família AGREE que requerem assimilação em ponto de articulação da nasal final podem ser violadas, tornando sequências como [np] e [mt] possíveis. Em contraste com o português, que possui /N/ como um autossegmento flutuante, o qual concorda em ponto de articulação com a consoante seguinte ou com a vogal precedente (BISOL, 2005), demonstra-se aqui que a interlíngua inicial do aprendiz anglófono de PL2 possui a consoante nasal especificada como /m/ ou /n/ e a restrição de fidelidade IDENTPLACE-IO em posição dominante na hierarquia. Esse aspecto da interlíngua do aprendiz iniciante é consistente com a hipótese de transferência de ranqueamento da L1 (PATER, 1997; BROSELOW et al., 1998; DAVIDSON et al., 2004; HANCIN-BHATT, 2008). Ressalta-se que, apesar de [m, n] produzirem uma estrutura silábica mais complexa, sua presença pode também exemplificar a emergência do não marcado, uma vez que as consoantes nasais permitem ao aprendiz produzir mais efetivamente a nasalização da vogal nasal do português, por meio da dominância da restrição de marcação *VoralN. (Apoio: CAPES) |