Resumo |
Dentro do quadro teórico-metodológico da Sociolinguística Variacionista, esta comunicação apresenta análises sobre a realização variável de /e/ nasal (em palavras como fazenda e entendo) como monotongo ou ditongo, com o objetivo de discutir o encaixamento social da variante ditongada. O corpus de análise compreende 102 entrevistas sociolinguísticas com falantes paulistanos, estratificados de acordo com seu sexo/gênero, três faixas etárias, dois níveis de escolaridade e duas regiões de residência na cidade.
Análises sociolinguísticas prévias de /e/ nasal debruçaram-se sobre os processos de desnasalização (p.ex. comem ~ comi Guy 1981, Battisti 2002), assimilação (p.ex. fazendo ~ fazeno Martins 2001) e alçamento vocálico (p.ex. engravidar ~ ingravidar Celia 2004). Para além de análises fonéticas (Demasi 2009), a ditongação de /e/ nasal em São Paulo não havia sido estudada com relação a seu encaixamento social. A variante parece ser tipicamente associada com o português paulistano (Medeiros 2007), mas uma análise qualitativa do discurso dos informantes do corpus sugere que a maioria dos paulistanos não tem consciência desse fenômeno variável.
As análises multivariadas mostram que a ditongação, que ocorre em 41% dos casos de /e/ nasal, é favorecida em palavras de conteúdo (verbos e substantivos), com menor número de sílabas e quando o segmento precede consoantes (pós)alveolares. Por outro lado, verificam-se correlações mais fortes com grupos de fatores sociais: a ditongação é favorecida pelas mulheres, falantes mais jovens, com nível superior de escolaridade, residentes de bairros de classe média-alta e no estilo de leitura.
Os resultados, em princípio, conformam-se àqueles esperados para uma mudança de baixo (Labov 2001) i.e. favorecimento da variante inovadora por mulheres e falantes de classes mais altas. Contudo, há alguns contextos em que o padrão é revertido e a ditongação é favorecida por certos subgrupos de homens e falantes de classe social mais baixa. Ao cruzar o grupo de fatores faixa etária com outras variáveis sociais, nota-se que: (i) enquanto as mulheres exibem variação estável, são os homens que de fato apresentam estratificação etária e que atualmente têm conduzido a mudança em tempo aparente; e (ii) entre os mais jovens, aqueles de periferia favorecem a variante relativamente mais do que os de bairros mais centrais. Ao mostrar a interação entre certos grupos de fatores sociais, esta comunicação discute suas implicações para o entendimento do significado social da variação e da mudança linguística. |