Resumo |
A tessitura do texto, falado ou escrito, é construída por elementos que se relacionam entre si mantendo a coesão e o sentido do enunciado. A coesão, componente interno do texto, compreende a referenciação, processo pelo qual os elementos que compõem o enunciado se relacionam anafórica ou cataforicamente, constituindo uma cadeia referencial. As casas fóricas ocupadas por esses elementos na teia referencial podem ser preenchidas por sintagma nominal, pronome ou zero. As escolhas feitas pelo produtor, ao construir o enunciado, permitem ao ouvinte reconhecer o grau de identificação dos referentes textuais. O objetivo deste trabalho, que se desenvolve no campo da referenciação textual, é verificar o tipo de preenchimento fórico usado para referência às personagens que participam de uma sequência textual narrativa e, em relação a isso, verificar o grau de identificação dessas personagens, em correlação com esse tipo de preencchimento. Nesta proposta, estabelece-se, em princípio, a existência de: grau máximo de identificação, nos nomes próprios; grau intermediário de identificação, nos sintagmas nominais cujos núcleos sejam compostos por substantivos comuns; grau baixo de identificação, nos pronomes pessoais; grau zero de identificação, nas casas fóricas vazias. Selecionaram-se como córpus de análise dois excertos narrativos de romances brasileiros, da época do Romantismo, Senhora, de José de Alencar e um contemporâneo, O filho eterno, de Cristovão Tezza. Trata-se de uma incursão que não visa a apontar diferenças entre as escolas literárias, mas sim, a reconhecer, no estabelecimento da cadeia referencial, de que modo as escolhas feitas pelo produtor conduzem o leitor à identificação de características relacionadas às personagens da trama. A base teórica para a realização desta proposta está fixada no modelo funcionalista, tanto na visão sistêmico-funcional (HALLIDAY, 1973, 1978, 1989; HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004) como numa visão mais específica da interação verbal (DIK, 1997), com apoio, para análise do português, em NEVES (2007, 2011). Busca-se, enfim, observar como se relacionam os graus de identificação e os graus de fornecimento de informações / descrições relativas a cada personagem identificada, destacando-se na análise contrapontos entre o funcionamento do nome próprio e o do nome comum, no modo de identificação. (Apoio à pesquisa: FAPESP, Processo nº 2011/14555-9)
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