Resumo |
Propõe-se, neste projeto de pesquisa, a análise da novela de Moacyr Scliar (1937-2011), Max e os Felinos (1981, L&PM, Porto Alegre), para tanto, a linha teórica adotada é a da Enunciação, proposta de maneira inovadora no campo linguístico por Émile Benveniste (1902-1976), por meio da obra Problèmes de Linguistique Générale, publicada em dois volumes (1966 e 1974).
Atentando-se a finalidade, também estão inclusas no trabalho as obras de Dominique Maingueneau (1950), Elementos de Linguística para Texto Literário (1996) e Nilce Santanna Martins, Introdução à Estilística (1989).
O objetivo desta análise é mostrar como ocorre o processo de construção e relação do eu (enunciador-autor/locutor/interlocutor) e o tu (enunciatário/alocutário/interlocutário), através de escolhas subjetivas do sujeito, na categoria gramatical verbo de elocução, que atribui maior ou menor subjetividade, por tanto maior ou menor envolvimento, comprometimento, entre o eu e o tu, além da epifania de sentidos e mistérios revelados por este mecanismo de linguagem.
As escolhas léxicas determinantes na construção e relação do eu e o tu numa trama narrativa, são bastante abrangentes, por isso, opta-se, em especial, pela análise e aprofundamento dos verbos de elocução, que têm não só uma grande importância por sua função de estabelecer um elo entre enunciados de diferentes enunciações, como também um relevante valor estilístico, dada a sua variedade e riqueza de matrizes semânticos. (MARTINS, Nilce Santanna, 1989, p.199) e pelos sinais diacríticos (travessão, aspas, dois pontos, itálico ou grifo, etc), que revelam e expressam a intenção do enunciador, seja em determinar fidelidade, veracidade, ou dar ênfase (ironia ou dúvida) ao enunciado do discurso citado, o que corrobora para a construção do eu e o tipo de relação estabelecida com o tu.
Necessário esclarecer que na novela Max e os Felinos, o autor não é o único a dizer eu, a personagem (Max) também assume atos de enunciação, como locutor, em melhores palavras Maingueneau esclarece que se trata de um recurso, a personagem locutor, que pode inclusive dar voz a outras personagens dentro de sua própria esfera narrativa, todavia a responsabilidade por essas falas são do autor.
Durante a pesquisa, realmente o corpus revelará essas três instâncias do eu e do tu: o eu enunciador, que estabelece relação com o tu enunciatário; o eu narrador que estabelece relação com o tu narratário; e o eu interlocutor que estabelece relação com o tu interlocutário. Tais questões pertencem ao campo da polifonia, trazido à baila para alicerçar o tema-problema. |