Resumo |
Introdução: Desde a criação, em meados da década de 80, da área de Neurolinguística e do Centro de Convivência de Afásicos (CCA), no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), inúmeros trabalhos acadêmicos têm sido realizados sobre o impacto do episódio neurológico sobre o funcionamento da linguagem, gerando, dentre outros quadros possíveis, a afasia. Dezenas de dissertações e teses já foram produzidas nessa temática, tendo a Linguística como posto de observação privilegiado, contribuindo para a reflexão da semiologia afasiológica, sobretudo acerca de fenômenos como agramatismo, automatismo/estereotipia, circunlóquio/confabulação/digressão, jargonafasia, parafasia e perseveração, dentre tantos outros. Um breve percurso teórico-metodológico da construção desse saber foi objeto da pesquisa de Mestrado realizada recentemente e que visamos compartilhar nesta apresentação. Quadro teórico-metodológico: A semiologia tradicional se caracteriza pela patologização de fenômenos observados na chamada normalidade. Diversas pesquisas têm questionado e indicado opções a tal abordagem, com o respaldo das análises linguísticas dos enunciados de sujeitos afásicos, atreladas a bases epistemológicas sócio-histórico culturais. Tais pesquisas tomam como corpora dados que emergem em episódios dialógicos nas sessões do CCA (Coudry, 1986/1988; Morato & Novaes-Pinto, 1997; Novaes-Pinto, 1999; Morato, 2011). Se, por um lado, os itens semiológicos são necessários para uma comunicação entre profissionais de uma mesma área ou de áreas afins como terminologias científicas ou moedas linguísticas (Porter, 1997) por outro, marcam posições muitas vezes preconceituosas com relação à produção linguística de sujeitos acometidos por patologias. Como Sacks (1995) afirma, a semiologia predominante nos manuais neuropsicológicos frequentemente empregam a ou dis, indicando sempre a ausência, a falta, algo para menos, como muitos dos termos acima mencionados. Com base nesses pressupostos e nos enunciados dos sujeitos afásicos, muitos desses itens semiológicos são questionados na ampla maioria dos trabalhos da área e alguns deles serão trazidos na apresentação. Objetivos: (i) apresentar uma síntese das pesquisas que se dedicaram aos itens semiológicos das afasias no âmbito da Neurolinguística desenvolvida no Instituto de Estudos da Linguagem, desde a década de 80; (ii) apresentar as principais contribuições dessas pesquisas neurolinguísticas, sobretudo as propostas de ressignificações de termos ou mesmo de alterações terminológicas; (iii) discutir a relevância das pesquisas de natureza qualitativa, com predomínio dos estudos de caso longitudinais das pesquisas da área e (iv) discutir a natureza dessas posições em relação ao conceito de resistência (Foucault, 2009; Kuhn, 2011, Orlandi, 2007). |