Resumo |
A compreensão de textos depende, dentre outros fatores, do reconhecimento de relações implícitas que são estabelecidas entre as partes do texto. Essas relações, chamadas proposições relacionais (MANN & THOMPSON, 1983), relações discursivas, relações de coerência ou relações retóricas (TABOADA, 2009) permeiam todo o texto, desde as porções maiores até as relações estabelecidas entre duas orações e ajudam a dar coerência ao texto, conferindo unidade e permitindo que o produtor atinja seus propósitos com o texto que produziu.
Um tratamento adequado a essa questão das relações de coerência é oferecido pela RST (Rhetorical Structure Theory Teoria da Estrutura Retórica), uma teoria descritiva que tem por objeto o estudo da organização dos textos, caracterizando as relações que se estabelecem entre as partes do texto (Mann & Thompson, 1988). A RST parte do princípio de que as relações retóricas que se estabelecem no nível discursivo organizam desde a coerência dos textos até a combinação entre orações (Matthiessen & Thompson, 1988).
De acordo com a RST, as proposições relacionais surgem no texto independentemente de sinais específicos de sua existência: não há necessidade de inclusão, no texto, de elementos linguísticos que tenham por função indicar as relações estabelecidas (Mann & Thompson, 1983). No entanto, pesquisas têm sido realizadas no sentido de identificar os meios linguísticos utilizados pelos falantes como pistas que permitam a identificação das relações retóricas por parte dos destinatários. De acordo com Gómez-González e Taboada (2005) e Taboada (2009), alguns dos meios mais utilizados pelos falantes para marcar as relações são os conectivos e os marcadores discursivos (MDs), que funcionam como cue words, ou seja, são palavras que fornecem pistas para a identificação das relações estabelecidas.
Neste trabalho, pretende-se apresentar as relações retóricas marcadas formalmente por meio de marcadores discursivos em um corpus de língua falada composto por elocuções formais do Grupo de Pesquisas Funcionalistas do Norte/Noroeste do Paraná (Funcpar).
Embora seja difícil encontrar uma definição satisfatória para o que sejam os MDs, elementos como então, agora e assim podem ser incluídos nessa categoria uma vez que são utilizados pelos falantes da língua não apenas como advérbios, mas também com função discursiva, sinalizando que há algum tipo de relação entre as porções de texto ligadas por eles. A conjunção mas também pode ser usada como marcador discursivo ao exercer função discursiva na retomada de tópicos ou em seu uso retórico.
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