Resumo |
A família Pano possui uma grande homogeneidade territorial, linguística e cultural distribuída em três países da América do Sul: Bolívia, Brasil e Peru. As 26 línguas Pano mencionadas na literatura e que ainda contam com falantes estão assim distribuídas territorialmente: duas na Bolívia (Chácobo e Pakawara); 12 no Brasil (Arara, Katukina, Kaxarari, Korubo, Kulina, Marubo, Matis, Nawa, Nukini, Poyanáwa, Shanenawa e Yawanawa) e nove no Peru (Amawaka, Iskonawa, Kapanawa, Kashibo-kakataibo, Mastanawa, Shipibo-Konibo, Sharanawa, Xitonawa, Yoranawa,). Outras duas línguas, o Kaxinawa e o Matsés, são faladas tanto no Brasil como no Peru, e uma última, o Yaminawa, é falada concomitantemente nos três países. Neste contexto, interessante se torna um trabalho de descrição e análise de algumas situações de contato linguístico entre os falantes das línguas Pano e as línguas majoritárias da tríplice fronteira (Brasil, Bolívia e Peru) e/ou o contato resultante de interações entre os grupos majoritários (falantes de Castelhano ou Português) e os minoritários (línguas Pano). Nesta linha de raciocínio, propõe-se, nesta comunicação, apresentar os resultados de uma pesquisa sobre situações de contato linguístico envolvendo dois grupos Pano, o Shanenawa e o Kaxinawa, habitantes das margens do rio Envira, nos municípios de Feijó e Tarauacá, no Acre, haja vista a proximidade territorial entre esses dois grupos e, ainda, o fato de os falantes de ambas as etnias estarem em contato constante com as línguas majoritárias. Por ora, focalizar-se-á apenas um aspecto gramatical: a ordem dos elementos sintáticos funcionais na sentença, haja vista o fato de a ordem básica tradicional dos constituintes oracionais das línguas da família Pano ser SOV em contraste com o que se vê tanto no Castelhano como no Português, línguas caracterizadas pela ordem SVO. A ideia é verificar se o contato das duas línguas Pano com as línguas majoritárias (especialmente, o Português) causou algum processo de reestruturação da ordem básica verificada nas línguas da família Pano e, caso isso tenha ocorrido, observar se devido à proximidade entre os falantes do Kaxinawa e do Shanenawa, haveria algum outro tipo de mudança nos domínios morfossintático dessas línguas. Para tanto, serão analisados dados já documentados na literatura, além de arquivos pessoais recuperados de linguistas e etnógrafos interessados nas línguas em questão. |