logo

Programação do 61º seminário do GEL


61º SEMINáRIO DO GEL - 2013
Título: ENUNCIAÇÃO SOLIDÁRIA NA POÉTICA AGUDA NEOBARROCA
Autor(es): Carolina Tomasi. In: SEMINÁRIO DO GEL, 61 , 2013, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2013. Acesso em: 21/11/2024
Palavra-chave enunciao,sentido,poesia
Resumo A simulação discursiva, oriunda dos tratados seiscentistas, é a matriz do jogo enunciativo da poética da modernidade, como é o caso do poema “São Francisco de Assis”, de Affonso Ávila (2008, p. 296), poeta mineiro chamado de neobarroco. Este trabalho objetiva explicitar como se dá a escolha enunciativa capaz de produzir uma sintaxe solidária e reflexiva verificada nos enunciados poéticos da modernidade neobarroca por meio do quadro teórico da semiótica francesa. Trata-se de um movimento em que tanto enunciador quanto enunciatário têm papel ativo na construção do sentido do objeto poético. Assim, quando o enunciador compõe (amalgama fonemas, morfemas, criando, por exemplo, um novo significante), cabe ao enunciatário decompô-lo para almejar o inteligível. E quanto o mesmo enunciador decompõe (desmantela um morfema, por exemplo), cabe ao enunciatário recompor o enunciado. É um jogo entre um enunciador competente para criar surpresas, no sentido zilberberguiano (2011), por meio de simulações discursivas, condensações (fusões) de elementos inamalgamáveis etc., e um enunciatário também competente para, após o impacto sensível do êxtase, desvelar os emaranhados e labirintos do texto poético a fim de fruí-los. No poema de Ávila, há forte preocupação com a arquitetura linguística. Há a simulação de uma enunciação enunciva (enunciador distancia-se, criando efeito de objetividade) marcada pelo tempo verbal do presente (terceira pessoa) do indicativo para que a verdade do enunciador soe como máxima, dando origem à voz de um destinador transcendente que tudo sabe. O poema pode parecer perder em subjetividade para ganhar em racionalidade; todavia, ao conter as emoções e os sentimentos e estabelecer a já dita luta para a construção da arquitetura linguística, mostra uma linguagem que deixa de ser apenas substância do conteúdo como grande mensagem sentimental para se transformar ela própria em fim e, nesse caso, a linguagem poética é arquitetura estruturante das relações entre expressão e conteúdo. Ao ocupar-se do fazer arquitetural, o enunciador volta-se para o trabalho da própria linguagem. Não se trata de um poema que se ocupa de outro tema que não seja o fazer linguístico como escolha da instância da enunciação. O enunciador competente é discreto e possui competência semiótica para simular enunciados, dando a cada um deles a exata medida que lhe é devida. Essa competência, que afinal se estende ao enunciatário, pode ser percebida nos versos do enunciado. Retomamos aqui a proposta de investigação deste trabalho: a sintaxe solidária e reflexiva como compositora dos enunciados poéticos.