Resumo |
As orações infinitivas preposicionadas sempre foram, na história da língua portuguesa, um contexto de variação na colocação dos clíticos. Já no início do século XX, Said Ali reconhecia que a aparente orgia de colocações levou a questão a escapar do tratamento pela norma gramatical.
Estudos recentes têm correlacionado os índices distintos de próclise e ênclise ao tipo de preposição empregado. Comparando as variedades brasileira e europeia do português, em corpora de escritores oitocentistas, Oliveira (2011) observa, no PE, a especialização da ênclise no ambiente da preposição a, havendo próclise na presença das demais preposições, como de e para. Por sua vez, a produção dos autores românticos brasileiros se revelou predominantemente enclítica para todas as preposições e as formas pronominais, aproximando-se do português clássico. A preferência pela ênclise também é atestada por Silva (2012), que analisa o fenômeno na escrita de intelectuais paulistas republicanos do final do século XIX.
Esta comunicação tem como objeto de estudo a colocação pronominal em infinitivas preposicionadas em textos produzidos por Julio Ribeiro (1845-1890) e Coelho Neto (1864-1934). Além de terem seus nomes marcados na literatura brasileira, ambos têm em comum a participação ativa na imprensa e o fato de terem sido professores de língua portuguesa em uma importante instituição de ensino de Campinas/SP. Julio Ribeiro ministrou no Colégio Culto à Ciência, na década de 1880, enquanto Coelho Neto trabalhou no estabelecimento quando este já se tornara o Ginásio Estadual de Campinas, no início dos anos de 1900.
Os dados de Julio Ribeiro serão coletados de compilações de artigos publicados em jornais paulista, quais sejam: Cartas sertanejas (1885), Procellarias (1887) e Uma polêmica célebre (1888). O corpus de Coelho Neto provém de textos publicados em periódicos cariocas e reunidos em obras como Fagulhas (1897-1899), A Bico de Pena (1902-1903) e Às Quintas (1921-1923).
Serão considerados como fatores condicionantes da posição do clítico o tipo de preposição, o tipo do pronome e o elemento que antecede a preposição. Atenção também será dada à posição do clítico em infinitivas preposicionadas de complexos verbais, observando-se a distribuição dos padrões de movimento do clítico (cf. Magro, 2005). Sob o enfoque da História Social da Língua Portuguesa, o trabalho busca o diálogo entre os resultados aqui obtidos e investigações anteriores sobre o fenômeno, os escritores em foco e a sociedade brasileira do final do século XIX e início do XX.
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