Resumo |
Na tentativa de compreender como se manifesta a poeticidade nos textos, constante desafio com que os estudiosos da linguagem veem-se às voltas, o fenômeno poético tem sido alvo, ao longo dos tempos, desde estudos que se caracterizam por uma visão intuitiva, responsável por uma análise romântica da poesia, que destaca a genialidade do autor, até concepções de uma crítica literária recente, que apontam para a desconstrução linguística como forma de recuperar os elementos geradores do fato poético e a riqueza de sentidos que este cria. Sem desconsiderar as possibilidades oferecidas por essas visadas, dentre as várias alternativas teóricas oferecidas para a tentativa de compreensão do fator poético, entretanto, a solução adotada neste trabalho é a oferecida pela semiótica de linha francesa, a qual, retomando as proposições de Hjelmslev a respeito do plano de conteúdo e do plano de expressão da linguagem, afirma que a poeticidade se faz presente em determinados textos quando categorias da expressão tornam-se homologáveis às do conteúdo, levando a mensagem a obter maior grau de encanto e eficácia. Partindo dessa concepção, esta comunicação pretende analisar alguns procedimentos que configurariam a existência de poeticidade em A terceira margem do rio, narrativa breve que se encontra no livro Primeiras estórias, do escritor mineiro Guimarães Rosa. Utilizando-se do instrumental analítico desenvolvido pela teoria semiótica, voltando a atenção para alguns elementos da expressão e do conteúdo, o trabalho propõe-se a discutir a importância das relações entre eles para a construção dos sentidos do texto. Adicionalmente, consideram-se dados obtidos também pelo instrumental da vertente tensiva da semiótica, adotando-se, como ponto de partida, a análise da referida narrativa efetuada por Tatit, na obra A semiótica à luz de Guimarães Rosa. Diante do exposto, verifica-se que o percurso de análise delineado visa a identificar elementos que permitam reconhecer um procedimento linguístico-discursivo integrado, a partir do qual, portanto, configurar-se-ia a poeticidade. |