Resumo |
A partir do dispositivo teórico da Análise de Discurso e dentro de um projeto interdisciplinar e interinstitucional que visa a melhorar e aprofundar a divulgação científica na área de mudanças climáticas e a analisar o modo de circulação da divulgação científica por meio de políticas públicas vigentes, vimos refletindo sobre: a prática da divulgação científica; a elaboração de instrumentos de divulgação científica (pensados em sentido amplo: isto é, como ferramentas, mas também como modos de se fazer acontecer uma teoria que sustenta uma posição frente à divulgação científica); e a relação entre ciência e políticas públicas (como um modo de circulação da ciência, na sua apropriação pelo Estado). Dentro destes objetivos mais gerais, temos trabalhado sobre algumas das formas por meio das quais vai se dando a relação entre o Estado e a Ciência, particularmente no espaço escolar. Nossa preocupação tem sido a de buscar compreender o funcionamento do discurso de divulgação dos conhecimentos científicos na sociedade, particularmente, na escola, observando como se dão as relações que se estabelecem entre ciência e ideologia.
Partindo, pois, desta reflexão sobre o funcionamento do discurso científico quando mobilizado no espaço específico de sua divulgação com vistas a um objetivo pedagógico, recortamos uma textualidade muito própria deste funcionamento: cartilhas temáticas cujo público alvo é o aluno da rede formal de ensino. Especificamente, nesta apresentação, traremos uma análise discursiva sobre a Cartilha Ilustrada sobre Economia Verde, Desenvolvimento Sustentável e Erradicação da Pobreza elaborada pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) em 2012, na ocasião da Rio + 20. Procuraremos mostrar nesta análise no batimento entre a descrição e a interpretação o modo como vai se construindo uma sustentação para os sentidos de mudanças climáticas na indistinção de argumentos configurados por um discurso científico e um discurso moral, projetando no indivíduo a responsabilidade por uma alteração de comportamento. Na individualização da solução para os problemas advindos das assim designadas mudanças climáticas, apaga-se a história, apaga-se o político, promovendo, conforme já apontou Orlandi (2003), condições de produção para um discurso reformista que silencia a possibilidade de uma outra ordem nas relações de força e de sentidos instauradas por uma formação ideológica neoliberal.
(Apoio: FAPESP - Processo 2008/58160-5)
|