Resumo |
Este trabalho tem como objetivo central apresentar e discutir como atuam o Princípio de Projeção e o Princípio de Recorrência da abordagem multissistêmica da língua (cf. Castilho 2010) a partir da análise de dados de algumas preposições.
O Princípio de Projeção pode ser definido como uma generalização da criação de expressões, e o Princípio de Recorrência como uma generalização sobre as expressões assim criadas. Quando criança, identificamos as estruturas das expressões que ouvimos, as quais aprendemos porque porque essas estruturas envolvem uma mesma fórmula: Especificador + Núcleo + Complementador, ou em outros termos: Margem Esquerda + Núcleo + Margem Direita. Essa fórmula estrutura desde de uma sílaba, passando pela palavra, sintagma, sentença, até um texto. Neste trabalho, apresentarei a análise de algumas preposições em dados do português paulista, com o objetivo de discutir como os Princípios de Projeção e de Recorrência atuam na criação e na estruturação dos sintagmas preposicionados. Um sintagma preposicionado (SP), assim como qualquer outro (Nominal, Verbal, Adverbial e Adjetival), terá sempre seu núcleo preenchido, podendo as outras posições da fórmula serem preenchidas ou não. No caso do SP, é recorrente, mas não categórico, o preenchimento da Margem Direita (Complementador), como na expressão "para casa". Menos recorrente é o preenchimento de todas as posições, como em "dentro de casa", e ainda menos recorrente o preenchimento do Especificador e do Núcleo, como em "longe de". Esse exemplo só pode ser compreendido num contexto mais amplo, por exemplo: um falante pergunta "Você já terminou o trabalho?", e uma possível resposta seria "Ih! Tô longe de!" (variando com outras tantas possibilidades, como "Tô longe disso", "Ainda não" etc.).
Kewitz (2007), num estudo da gramaticalização e da semanticização das preposições a e para em dados do português brasileiro nos séculos XIX e XX, verifica que certos verbos projetam tanto uma, quanto outra preposição, ora sem distinção de sentido, ora com sutis difenças semânticas. Neste simpósio, pretende-se aprofundar e ampliar esse estudo a partir da reflexão dos Princípios de Projeção e de Recorrência com essas e outras preposições simples, tais como em, contra, entre etc.
Referências:
CASTILHO, A.T. de (2010) Nova Gramática do Português Brasileiro. São Paulo: Contexto.
KEWITZ, V. (2007) Gramaticalização e Semanticização das preposições a e para no Português Brasileiro (Séculos XIX e XX). São Paulo, FFLCH-USP, Tese de Doutorado.
|