Resumo |
Aprender e ensinar língua portuguesa no Brasil sempre foi um ato complexo. A história do ensino de língua materna no território brasileiro demonstra que sempre se privilegiou a variante mais próxima de um determinado modelo estipulado pela classe dominante; no período colonial, este modelo era o Português Europeu (PE), o qual enraizava-se na língua latina, a língua dos escritores e do clero. Na tentativa de manutenção desse ideal de língua pura, homogênea e correta, surgem as gramáticas de língua portuguesa. As primeiras apresentam uma visão de língua como manutenção do idioma nacional, dessa forma é possível perceber, na gramática de Fernão de Oliveira (1536), a sua preocupação em valorizar a língua nacional, a língua portuguesa; assim a partir dessa visão, Oliveira propõe uma análise das partes da língua, com foco principal na descrição da pronúncia no português da época. Mais de 400 anos após a publicação da primeira gramática da língua portuguesa, é publicada a gramática de Cunha e Cintra (1985), na qual os autores propõem um trabalho com a gramática comparativa, valorizando as variedades da língua portuguesa, que difundiu-se por vários países, principalmente o PE e o Português Brasileiro (PB). Assim, os autores trazem no escopo da obra novos conceitos sobre língua e linguagem, além disso, a obra estrutura-se seguindo os modelos medievais de gramática, nas quais o estudo da língua apresenta-se dividido segundo a análise das partes do discurso, separando as classes e analisando-as a partir de trechos de escritores consagrados na literatura luso-brasileira. Estudos mais recentes fazem veemente crítica ao ensino tradicional de gramática nas escolas brasileiras, considerando que a prática não condiz com as novas concepções de ensino que orientam o trabalho com a língua materna. Pretendemos, assim, neste trabalho, a partir de estudos sociolinguísticos, mais especificamente sobre as noções de língua e norma, analisar as concepções de linguagem que se fazem presentes nas gramáticas de Oliveira (1536) e Cunha e Cintra (1985), a fim de verificar qual concepção prevalece nas obras, considerando o contexto sociocultural das épocas, contextualizando a língua portuguesa em território nacional brasileiro. |